quinta-feira, 19 de julho de 2018

ar

tem faltado ar, oxigênio, atmosfera nesse algo a mais que não se sabe o que,
nesse movimento interrompido...
uma pedra morta que também mata quando cai
uma teia que não desata os nós e nos atrai até a armadilha capital
essa ceia à meia noite que me tortura e tenta me degolar como uma galinha sem alma
tenho cãibras e rabanadas no natal, e muita gordura que não desgruda mais da paredes
não sei bem o que...
pois falta saudade no amor próprio dos solitários do mundo
esses seres autenticamente cópias da melancolia própria de uma farmácia
se uma desrazão qualquer me cala
volto e procuro nos olhares já cansados, uma certa fumaça das frases de esquina
ou não sei muito bem onde...
é claramente sólida a minha visão
e ao avistar a avenida em seu pleno amanhecer de cidade cão
como um vulcão latejando de piche e cimento plácido
enfio os fones na orelha e me afogo em lembranças
ouço as canções que me acalmam e que ninguém ousou fazer pra mim
lá fora o tempo passa devagar e ninguém se importa
lava-me a lava do sol da manhã a me tornar mármore e monumento de praça.

marcelozorzeto