segunda-feira, 2 de junho de 2014

sem títuto no título

e essa raiva que me dá quando ouço ingenuidades absurdas
risos soltos, gargalhadas de ignorância
uma felicidade forçada
a alegria comprada na banca de jornal da praça da República
sonhos que se alimentam com migalhas de ilusão
que antes eram jogadas aos pombos

gente alegre com tudo ao seu redor
sons, cores, cheiros e chuva ácida
dentes amarelados, nicotinados de esperança vagamente rasa
rugas de preocupação disfarçadas com pó barato da 25

é preciso ser feliz por decreto! Alguém me disse
institucionalizar a sensação de dever cumprido
pra poder gritar no fim de um dia de conquistas mesquinhas
-EU VENCI!esfregado na cara do mundo
Com gosto de - EU MENTI!
e minto a todo o momento pra mim mesmo

é sempre um ótimo dia pra se ter um dia ruim
e eu só quero o privilégio do fracasso sem culpa
a risada escancarada dos defeitos meus
admitindo minha condição mortal 

quero ter a dúvida da crase
eternamente em crise
acreditando ou não na utopia da esperança
e poder vestir minhas roupas desgastadas
sem me importar com olhares tortos de gente torta
estou limpo de alma, e isso é tudo
se tudo fosse
mas não é!
digo isso com toda a certeza de quem sabe do amanhã

marcelozorzeto