segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

irreal


Com um punhado de fotografias e alguns “tapes” esquecidos na gaveta do armário da sala, revisito meu passado e me recuso a acreditar que ele, um dia, tenha de fato existido. Aniversários e casamentos, festas em preto e branco, encontros e abraços apertados que há muito tempo não se abraçam mais. Reuniões regadas a afeto rasgado, congeladas no piscar de uma Polaroid. Um mundo guardado em uma pequena caixa de sapatos e que se apaga com o tempo. Lentamente. Pacientemente. Impiedosamente. Assim como nós nos apagamos todos os dias.

A impressão do sonho é a ilusão de que tudo foi real. Mas nada é.

Vagas memórias vagas. Pedaços de bolo de papel, pessoas de papel, com olhares de papel.

O almoço de domingo, o jantar de sábado. A visita inesperada em qualquer dia era sempre bem vinda. Amigos que já devem ser amigos nas fotos de outros amigos.

As sobras que guardadas na geladeira duraram até o dia seguinte de um dia que não é mais, há tempos, e que não tenho certeza se um dia foi de verdade. Um sorriso meu que mal posso provar que foi realmente meu.

Fantasmas e garrafas de Fanta espalhadas sobre a mesa, e a sobremesa que o tempo deixou sem gosto. Nem estas mal traçadas linhas poderão um dia ter sido escritas por mim.

O tempo apaga os rastros, as pegadas e as impressões. As digitais se desgastam.  A pele se dissolve nas coisas que tocamos. É a vida se dissolvendo nas individualidades.

E eu que não consigo imaginar a diferença entre o que é sonho e o que é memória.

E se o amor não for abstrato?

Que tudo mais seja abstrato.

marcelo zorzeto