quinta-feira, 30 de outubro de 2014

em vão

loteamento de chão
lama e alma
lamentação
ser um cão sem calma
quando se sente são
ação e palma
terra e pão
aversão
verso e refrão
mãe e orfão
calo na mão
falta água - fé - feijão
fome de fama
inflamação

marcelozorzeto

catarse

sem muita pressa pro sono, sempre a essa hora - a mesma hora enfadonha. essa vontade carnívora, esse cheiro de cólera e amores que se esquecem. sabores que podem enlouquecer. é quase sábado e a vida é eterna - tem éter no mundo todo. o momento que finge ser fulgás, é só efêmero às avessas. o ninho sem pássaros é tomado por fantasmas e sou eu que canto, pois também posso ser pássaro, posso ser grito e posso ser a morte nas minhas horas de voo. sempre é pouco e quero mais, quero tudo e o silêncio, quero o sol e a escuridão sem tédio. sei de tudo o que não sou e passo o meu tempo debruçado entre minutos quase eternos, e então me esqueço dele, o tempo, que mesmo sem mim continua. e me enterra. tento sem conseguir - um tanto sem aguentar - pintar meu coração de cor-de-outro,  ele escorre e escorrega, derrete no gelo, é sórdido, é monocórdio, apático. ele quis me convencer, acredita? me convencer a acreditar na cândida fantasia que é essa minha sorte, mas o sonho me consome e já não tem mais volta.


marcelozorzeto

noites na capital

a janela é coberta pela cortina estampada de uma madrugada sem estampa
é manhã e noite ao mesmo tempo, fria-gelada,
já tem som de passarinho acelerando, acordando pra namorar a cidade
tem canto e encanto em algum lugar da avenida. ainda é cedo eu sei -
quarto andar - no céu rosa de São Paulo
sopram os primeiros raios de sol para furar a neblina e extinguir a melancolia
a lua ainda perdida, não veio se despedir,
eu sei que ela ainda existe e se esconde do outro lado do mundo
o barulho da cidade acorda a manhã inteirinha
e a minha ressaca gira com o mundo todo.
o som das impressões que tenho sobre as coisas
é bem mais grave e profundo do que meus pensamentos anacrônicos.
e o relógio, sempre ele, tenta me castrar. o acuso de ser seco pra cacete.
tem trânsito na marginal, mas rio não tem mais, porra, matamos um rio
agora só um esgoto a céu aberto.

marcelozorzeto

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

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É tanto sonho que já nem durmo mais com medo de acordar
É tanto medo que já nem acordo mais com medo de sonhar

marcelozorzeto

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

ciúmes

Ciúmes é a projeção no outro da falta que sentimos de nós mesmos.
Não é amor.
É aprisionamento.

marcelozorzeto

domingo, 12 de outubro de 2014

Abaixo o amor S/A
Abaixo o amor microempresa
Só me interessam amores sem fins lucrativos
e sentimentos sem etiquetas de preço.


marcelozorzeto
de alma louca, paciência pouca e cabeça oca.

marcelozorzeto