terça-feira, 20 de dezembro de 2016

paulistanidades ou o amor que só existe nas entrelinhas

andando na avenida central desta capital de concreto, me deparo com a vitrine da loja modesta, paro e me olho no espelho, como todo bom Narciso, e me pego incompleto, surpreso e indiscreto aos olhos das pessoas que passam solitárias. num leito largo dessa mesma avenida, por onde passa um rio sólido de asfalto quente, pessoas atravessam, se olham, se esbarram, mas não se deixam atravessar... são corações que naufragam nessa maré dos desencontros e a solidão é uma espécie de busca por sobreviventes.
marcelozorzeto

sábado, 17 de dezembro de 2016

sinceridade

a sinceridade é a virtude de se dizer o que se sente e pensa. é uma espécie de mensurador de pureza da alma. geralmente isso só existe em crianças até 5 anos de idade e idosos a partir dos 80. ela também é um bom termômetro dos grandes encontros da vida, ter alguém sincero ao lado pode ser o toque de midas, raro, mas ocorre. Mas lembre-se: ser sincero não significa ser estúpido e rude. um grande viva as nossas dissimulações diárias.

marcelozorzeto

superfície

numa sociedade superficial, quando mais profundo você cavar, mais terra vai cair por cima de você. eis um buraco, frio, escuro e só seu...

marcelozorzeto

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

notas sobre um presente não muito distante

eu não me conformo, mas também não me desespero mais, não tenho mais tempo nem cabelos pro desespero. ninguém os tem... da escuridão que existe dentro e fora de mim, eu enxergo a silhueta de corações aborrecidos e envelhecidos... e é pela lua insistir em nascer, mesmo tarde da noite, que muitas vezes me permito ver o contorno daquilo que acho ser o real. contornos impalpáveis, na fumaça dos pensamentos que nem sei mais se são os meus (certamente não são). quero recomeçar do zero, mas ninguém pode recomeçar do zero. é impossível... estamos todos muito viciados de meios e fins. o começo só é o verbo pra quem ainda não entendeu como se soletra a palavra vida. e é simples:

F-O-D-A-S-E

marcelozorzeto

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

poema não poema

olha, nenhum poema é superfaturado.
nenhum poeta jamais aceitou propina.
não há máfia na poesia!
a poesia revela o mundo, não se esconde por detrás de ternos caros e desvios da verba da merenda escolar.

marcelozorzeto

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

o jardim das borboletas

fugindo ele corre...
corre e entra às pressas num jardim qualquer,
aleatório e alienado
ele corre
a grama é cinza-chumbo e as flores
de um estranho gás neon verde-bandeira
Lhe retiram o corpo,
lhe roubam a carcaça,
a gravidade lhe arremessa,
recebe carícias deturpadas de coturnos grossos e indignos,
é outono e todas as borboletas estão mortas,
estranhamente mortas por uma espécie de crucificação.

marcelozorzeto

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

sobre a arte e suas formas de expressá-la

daí eu tenho um discurso, político, poético, político-poético, político-poético-social potente em sua forma de expressão, contra as tiranias do mundo inteiro. daí eu quero ou gostaria que todos o ouvissem (o discurso), mas então eu cobro pra discursar. e cobro caro. inviabilizo o acesso e ele (o discurso). apenas tentando entender... marcelozorzeto

domingo, 4 de dezembro de 2016

meus poemetas

não sou eu quem escrevo os meus poemetas metidos a besta... a propósito, eu malemá sei escrever. palavras são pra mim como pássaros, eu só as escuto - não ouso entendê-las. desisti, há tempos, de questioná-las. ao contrário do que um dia alguém pode ter pensado, são eles, os poemetas, que me rascunham, reinventam o que sou, reescrevem meu significado por linhas invisíveis e entregam aos meus caros inimigos, minha cabeça numa bandeja de 1,99.

marcelozorzeto

sábado, 3 de dezembro de 2016

sábias-laranjeira

pode deixar o vento burilar na sua pele, minha estrela-menina do mar. pode beijar o sol, com lábios de caracol, meu pequeno menino cor-de-terra, mas permita que o amor-sangue-nosso, mangue-aço-etílico, nos embriague da cabeça aos tantos pés entrelaçados na grama do belo brincar. veste lua, o seu pijama de prata, e nos convida pra valsa das suas fases perfeitas, pois a madrugada, a mansa e morosa madrugada, é um bom lugar pra se esconder da morte, entre os muitos sonhos e o canto dos sábias-laranjeira.

marcelozorzeto