segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Eta vida besta, meu Deus

hoje de manhã, enquanto lavava a louça da janta de ontem
pensava na vida, na morte e no medo
um passarinho que canta me distrai
o prato ensaboado escorrega das mãos
tento apanhá-lo
corte no dedo
sangue na pia
band-aid e mertiolate
"Eta vida besta, meu Deus. "

marcelozorzeto

arrepio

O que é um arrepio,
senão uma oração da pele no templo-corpo
território de toque
poros em erupção
pelos ouriçados em ereção
profanação do sagrado
no altar dos desejos
O que é um arrepio
senão o próprio coração
em ritmo de carnaval.

marcelozorzeto

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

canção de Belchior

a minha tristeza é como uma canção do Belchior
um olhar lacrimoso a observar um avião
como medo que ele caia sobre a cabeça da nossa cidade

marcelozorzeto

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

manifesto s

abaixo os lábios cinzentos de concreto e ódio...
e que toda palavra proferida saia com gosto de cafuné de mãe
e cheiro de bolinho de chuva com café passado na hora.

marcelozorzeto

terça-feira, 25 de agosto de 2015

breve cordel da reconciliação

ando calmo pelo avesso e respeitando meus tropeço...
quer tomar um café, prosear e matutar um recomeço?
te dou até meu telefone se quiser, ou quem sabe o endereço
mas calma lá também, pois meu coração não é feito de gesso!


marcelozorzeto

sobre mares e partidas

há corações que partem e a gente emenda
há também os que partem e não voltam mais
numa selva de partidas, por favor, não se ofenda
pois dor e saudade devem permanecer no cais
para as embarcações, navegar é vital
nesse mar que bate e nunca cessa.

marcelozorzeto

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

águas calmas

na mesma pele que sente esse frio de agora
é onde tenho passado minha vida inteira à flor
no amor que transpiro, me refresco
com os poros que transbordam rios lodosos inundando o coração
o arrepio do toque da maré
o sal na língua molhada
o beijo roubado em Iemanjá
me parecem tão exatos quanto o porvir dos meus sentimentos
que não virão.

marcelozorzeto

domingo, 16 de agosto de 2015

canção de domingo

esse canção é pra você que sai pela porta da frente e nunca mais volta
perde o endereço, esquece o ponto referencial
é uma canção reticente, um pouco de mim, sim, anda por demais bem carente
sem quase nenhum nutriente, quase um biscoito de água e sal
não tem refrão, nem estribilho e a melodia é bem cafona
e neste verso, como sem inspiração, pra rimar, enfio sem fazer sentido, uma canção da Madonna
(Wanting, needing, waiting
For you to justify my love)
mas por mais que te pareça confusa e inapropriada, essa canção ainda não está morta
pois relembrar o encontro, o encontro que celebra a vida, faz chover na minha aorta
(meu coração hortaliça, tem cheiro verde e alho poró
e tempera minha vida, como se só existisse uma só)

dedico esses versos bregas de domingo
pra você que não sabe por aonde anda
mas se por acaso encontrar minha vó em algum bingo
diga que mando um beijo à dona Vanda

e se ainda por acaso um dia decidir fazer o caminho de volta
pois encontrou o mapa perdido da minha cidade
saiba que o abraço ainda vai sim, ser daqueles apertados, que nunca se solta
pois um dia fomos vizinhos de corpo, de alma e cumplicidade.

marcelozorzeto

Diálogo em versos com Gisele Jota sobre um Brasil coxinha

Eu:  A nossa moral é de-formação pura
       vivemos um momento de fritura
       coxinha de ditadura
       queres a volta da farda hostil?
       és uma criatura imbecil


Ela: Moral frequentemente dura 
       travestida de candura 
       elite adormecida (pura?)
       jura que sentias falta do vil?
       és brasileiro digno de covil

                   

Eu: ai, essa candura gordurosa!
      dessa gente duvidosa

      eu quero estar bem distante
      seja no pensamento que viaja
      seja montado num elefante!


marcelozorzeto

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

escrevo na contra-mão do futuro
e me sinto como em meus versos
sou piegas, sou também casmurro
nas profundezas me acho imerso
abro mão do meu passado
canto a lua e canto o sol
sou um caipira embasbacado
nesta cidade caracol
o verbo é meu presente
danço nu na minha tribo
nesse mundo a mim ausente
ser escravo eu não consigo
sobe o tempo devagar
como a ave voa longe
trago no peito meu amar
onde a cicatriz se esconde
andorinha em tempestade
relâmpago na montanha
chove forte na cidade
nunca tive pressa tamanha.
marcelozorzeto
rasgou suas costas num caco de telha
a pele vermelha
o sangue vermelho
levou 3 pontos e um café com leite
é, a vida deixa marcas
que duram uma vida inteira
pedaços da gente que ficam pra trás.


marcelozorzeto

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

sou razão e sou rasura
sou o pão e a penúria
extrato amargo de céu
nesse chão vil de feiura
sou um cão, pura lisura
numa selva-arranha-fel
Sou Jasão e noite escura
paralela estrutura
nesse jazido cordel.
marcelozorzeto