terça-feira, 14 de setembro de 2010

Pura ficção



4h30 da manhã e eu aqui olhando para através da janela do meu apartamento, para o relógio que fica na praça do outro lado da rua. 4h30 da manhã e nada do meu inimigo sono aparecer por aqui. Meus olhos queimam,  meu estômago dói, e minha cabeça a mil por hora sem saber pra que lado despencar. Se já houve solidão mais aguda não sei, mas sei que tudo o que eu queria agora era estar profundamente entorpecido por qualquer substância proibida ou não. O dinheiro acabou, e a vontade de saber se ainda vale à pena também. O que me resta eu não sei, mas tentarei descobrir nessas próximas linhas.

Não respiro dentro d’água, eu preciso de ar, e preciso urgentemente. Não fico aqui nem mais um segundo. Gastei toda minha vida, ou qualquer coisa que se pareça com uma, dividindo meu tempo entre o nada e absolutamente coisa nenhuma. Futilidades absolutas que fizeram de mim, um ser vazio. Sou meu próprio sanatório e boteco predileto. Trago em mim a herança de todos os vícios aprendidos nos últimos quinhentos anos. Minha geração é opaca.

Olho agora pro relógio e ele ri de mim, ri me mostrando todos os dentes, brancos como a luz da hora da morte, e eu ainda atrás de algo que me faça descansar em paz pelo menos essa noite. Ah se eu soubesse a fórmula da morte eterna. Você aí, isso, você mesmo, você sabe a fórmula da morte eterna? Ou algo parecido? Mas é só para as próximas 48 horas...

“FUCK THAT BITCH”- Acho que é a TV, pelo menos eu espero que seja, tenho que desligá-la. Se tudo fosse tão simples assim! Com o controle nas mãos sou capaz de tudo, não é verdade? Mato, morro e ainda posso ressuscitar no dia que eu bem entender. A filosofia da noite me cega. E o som dos pássaros me assusta e relaxa ao mesmo tempo.

Sem querer, um raio de sol entra por uma fresta egoísta da janela e queima minhas costas como brasa. Sou todo escuridão. VOCÊ PODE PARAR COM ISSO? O relógio já perdeu seu brilho e as horas desapareceram completamente do visor. É estranho ouvir o som da manhã quando se está sóbrio. O sol derrete o terror das coisas e pinta tudo de laranja e amarelo claro. Como no final de um filme de terror, todos os monstros fogem e uma música suave começa a tocar. Mas a dúvida fica: isso tudo é um sonho de muito mau gosto ou apenas a realidade absurda de uma vida patética e incoerente?


marcelozorzeto