segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

na rua do amor

na rua do amor, a amargura sempre ultrapassa
deixando pra trás poeira e sorrisos sujos
permaneço saudade, sou todo outono
mas gosto do inverno ou verão com mar

na rua do amor ama-se bem pouco
não se olha o hoje, perdem-se nos amanhãs
sou todo farpas, pele em chamas
parto naturalmente em nuvens

na rua do amor, o amor desfalece
sobra você menos eu, mas éramos nós
quem é de verdade? a arte nua
a vida cruamente insana da cidade sobre mim?

na rua do amor faz-se prédio
só há sombras e remédio amargo
sou todo censura e embargo sonhos
preconceitos pré-históricos

na rua do amor não há rima perfeita
nem clima pra isso
estou só preso a um poste
pelo pescoço, a carne o osso e desespero

na rua do amor agora há tédio
não há drama nem gramado
flutuo... sou ponte, público concreto
coração passeio batimento e rotina

na rua do amor instituíram sentido único
contra-mão, contra a vontade
um cinema fechado, um filme enlatado
desbotado cartaz

na rua do amor moramos todos nós
mesmo adereço cinza-opaco
espero uma carta, me debruço na janela
todos passam sem envelope em mãos

na rua do amor moramos nós
e de amor não entendemos
chove no asfalto, o bueiro entupido
água que sobe, morro sempre afogado
na rua do amor.


marcelozorzeto