sexta-feira, 22 de maio de 2015

São Paulo apressada
nessa pressa sem apreço
não me abraçam
na rua da Consolação
Precisa-se passar depressa.
precisa-se Passar depressa!
precisa-se passar dePressa?
paga-se um preço precioso
por se passar assim, sem afago
sem afeto eu posso me afogar
pois então eu penso
folgo
precipito-me
passo-a-passo
pouso
pássaro
preguiçoso
impreciso
fumo a fumaça que mesmo faço
adormeço para sonhar
espero o sol a divagar
e são, como nunca sou
amanheço querendo ser gente
tenham paciência por favor
falta paçoquinha, meu AMOR.
marcelozorzeto

sábado, 16 de maio de 2015

a liberdade é meu abismo favorito
sem saber pra onde vou, voo
? alguém que me indique direções

a descoberta dos meus limites
me tomou a vida inteira-tentativa de viver
?alguém pronto pra me doar seu sangue estéril

estou perdido em meus próprios valores
eu os inventei, eu mesmo criei a besta
e agora solicito um norte, mais ao sul
um hemisfério quase morto
   
ser livre é o pior pesadelo
ser livre é morrer antes do tempo
sou palavra apenas
sou um livro congelado
e o amor não salva ninguém.

marcelozorzeto

segunda-feira, 11 de maio de 2015

em cada palavra dita
há um pouco de dente
lábio
língua
gengiva
saliva
hálito
e coração

a palavra dita
é beijo soprado no rosto
ou na nuca
na boca do estômago
com um fonema-soco

em cada lágrima
que escorre a retina
vejo olhos
olho cílios
sinto pele e gosto
sede e sangue
e ferro

em cada olhar
um pouco de alma
calma e terra e céu
chão de pássaros
cantam azul

a cada dia
um pouco de vida
cheia de morte
talvez azar
talvez não
sorte


marcelozorzeto

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Tempo

não há motivos pra tentar entender o Tempo
que deduzo ver passar...
pois sou eu a passar por Ele (e não o oposto)
você Tempo, você e a Sua monstruosa inércia
que me invade e me entope as ideias
com dias e artérias
meses e décadas inteiras estragadas
solstícios, equinócios e carnavais ruins
no passado Tempo, sou eu de lembranças míseras
e futuros que talvez não
no presente, sendo estupidamente invisível
consigo, às vezes, me enxergar
estou sempre muito ocupado na tentativa do viver
me esqueço de estar
e não deixo de estar, mesmo sem querer
como um trem sem estação ou paradeiro
o Tempo apenas segue o seu trilho de fio distante
num carretel de vida de todo sempre por onde nasço
passo, morro e me costuro
ser só passageiro, só
desde o antes, até o nunca
vago lá
vagueio aqui
vagalumeio por entre luzes
de vida
pra me tornar tempo e nada e mais.

marcelozorzeto