sexta-feira, 27 de julho de 2012

amargo

sobre o pão amargo da noite, sagrado e dividido em partes desiguais
pairam palavras duras como o vento que leva a pena leve pelo ar
às pressas, abruptamente, violentamente sem ter chance de se despedir

sobre o chão batido, calado e sofrido
ficam as coisas que não são de deus nem do diabo
e essas andam por aí sem destino, em desatino, numa febre desmedida de frio

sobre o mundo cão, danado e perdido
minha poesia também se perde, desaparece nos becos idiotas
em olhos de crianças com fome que pedem trocado pelas janelas escuras do mundo

pelos caminhos que escolhemos em vão, arrependidos e sós
cabem desculpas nunca pedidas
em casos de amores mofados
rancores sem cura e prazer com compaixão
noites mal dormidas de insônia pensando na vida que não para e não espera

por onde antes havia a razão desmedida e cega de certeza absurda
penso agora, absurdamente na contraprova da verdade absoluta equivocada
na poeira que se levanta toda vez que alguém diz amém
e na fumaça de Sampa que sobe, cega, apaga estrelas e me faz tossir minhas desgraças

sabe o que? A dúvida é o que me excita!
a loucura dos versos propensos à lucidez
desmentem os laudos de minha sanidade mental em plena ebulição

viva os palhaços das causas perdidas que como eu acreditam no “porém”
muito mais do que em qualquer “além disso”.

estou perdido e não peço socorro, não quero socorro
corro só pelo mundo que há de me ver morrer só, assim como vim, nu e só

e palavras absurdas como estas
são apenas absurdas quando não se tem fé nas palavras

a loucura me comove mais do que a alegria
e é engraçado ver essa gente metida a sã brincando de dona do mundo
loucos são os outros
a loucura é um muro alto, de onde a gente tem que cair
obrigatoriamente tem que cair

marcelozorzeto