terça-feira, 29 de março de 2011

rezar


Mãe, me acorda desse pesadelo,
por favor!
mãe, minha corda!

meu pescoço frágil não vai aguentar

ora, ora, que tua hora vai chegar
o teu deus
o meu deus 
o deus de todos os poderosos
                                          (reunidos na mesma sala de espera)
à espera de um milagre
a áspera espera que corrompe e não pondera
também pudera! O banco da fé só reverencia aqueles que pagam
pagãos ou não, não importa, o que importa é a oração.

                                                   (Oh ração dos imbecis!)
não vê que a fé é vil?
e que seu deus zomba de quem se diz feliz?
                                                                 feliz?
marcelozorzeto

terça-feira, 22 de março de 2011

chuva

e a chuva não veio
depois de dias e dias ela não veio
prendi meu choro, perdi minha calma
tamanha a secura dentro de mim
perdi até minha alma
rio de areia a desaguar no deserto
concreto
solto no ar, mar sem fim
que espalha seu sal e amarga a boca
loucura grandiosamente boa de pensar na morte
sorte
pra quem já não vive em paz
dor intensa que transcende a mente
e nos mostra o caminho perfeito
lugar mais perto de mim mesmo
paraíso.

marcelozorzeto

sexta-feira, 18 de março de 2011

manha

rio de qualquer coisa,
mas não é qualquer coisa que me faz graça
choro ao ler cartas de amor
choro rios salinos
e os olhos já almejam ser o mar 
olhos azuis são oceanos
alguns pacíficos outros nem tanto

na boca os dentes mordem a língua 
digo coisas pela metade
pedaços 
palavras em pedaços
aos berros
palavras, que pela manhã cheiram a creme dental de menta
saem, ao som do gargarejo, "cepacoliando"
minha manhã manhosa de acordar

marcelozorzeto

quinta-feira, 17 de março de 2011

medo


tenho medo de ficar e de partir
tenho medo da noite, do dia, do porvir
tenho medo da cura e da doença,
tenho medo da minha própria existência

qual a essência humana diluída em dor
tenho medo da noite, do frio e da vida
tenho medo do escuro, do claro,
do enfrentar uma saída

medo de ver que o tempo passou
e me deixou para trás
totalmente perdido de mim
nesse medo que não tem fim.



marcelozorzeto

sexta-feira, 11 de março de 2011

drummondiando


Carlos odiava Dora que odiava Pedro
que odiava Ana que odiava Sandra
que odiava Paulo que odiava Sergio
que odiava Márcia que odiava Lucia
que odiava Antonio que odiava Chico
que fingia pra todo mundo que amava o mundo,
que se acabou por falta de amor.

marcleozorzeto