terça-feira, 31 de outubro de 2017

a arte

a arte é antes de mais anda, algo que vem pra nos inquietar, incomodar, tentar nos mostrar o aspecto do real, nos fazer entender a importância do risco que se esconde nas frestas do cotidiano; cotidiano que insiste em nos aprisionar nesse imposto comodismo frio e mórbido. e inquietar-se é por-se em movimento denotativo e conotativamente. e vida é movimento, vida é risco, vida é ter consciência da morte sem se deixar contrair pelo medo da finitude. eis o grande perigo da arte: descobrir o real, revelar a crueza da vida, nos colocar em contato consigo, reconhecer que somos nossos próprios deuses e consequentemente nos reconhecer como o outro que somos.

marcelozorzeto

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

as cigarras

onde estão as cigarras que me acariciavam os ouvidos com estilhaços de suas mortes, sempre pregadas às folhas do tempo, folhas e galhos repletos de tempo? sinto cheiro de dama-da-noite e minha infância me vem aos olhos em forma de refluxo, num contrafluxo tardio de vida...

marcelozorzeto

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

em nome da mãe

eu sei o que vocês querem, 
eu sei muito bem...
vocês querem um novo herói, né?
um messias, um novo enviado celestial.
pra pendurar num pedaço de pau e bater uns pregos
tô ligado...
eu sei, eu sei, tá na cara e vocês-nem-sabem-mentir-direito. 
mas nessa eu não caio não, 
nem adianta me oferecer suborno, 
propriedades em outras dimensões, 
salvações almáticas, nunca serei seu salvador, 
e sabe por que? porque se eu morrer, 
vocês não se darão por satisfeitos, 
vocês vão querer me ressuscitar, é... 
ressuscitadinho da silva,
vão querer infernizar o meu domingo de folga 
com a porra dos problemas de vocês, 
o histórico de vocês não é bom... é bem ruim por sinal,
e se por ventura, muito por acaso eu for forçado a voltar, 
eu prometo tocar fogo em tudo,
não vai sobrar um palito de fósforo sobre a face da terra. 
o recado foi dado. em nome do MÃE.

marcelozorzeto

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

entender

Algumas pessoas entendem
outras não entendem realmente
mas a maioria mesmo
a maioria morre de medo de entender.

marcelozorzeto
não sei qual o pior; achar que vai morrer, ou ter certeza!

marcelozorzeto

domingo, 8 de outubro de 2017

a novidade

há um certo fetiche pelo novo, espera-se a novidade com anseio, uma contra-monotonia, como se ela, a novidade, fosse a salvação para as nossas almas tão vazias. mas via de regra, a novidade também é vazia, pois é feita às pressas para suprir a demanda do desespero e o tédio diário. veja o antigo, o velho, ele é consistente, amadureceu e não amarra mais a boca ao ser mordido. observe os maracujás e os livros de páginas amareladas.

marcelozorzeto

hámor

só "amamos" aquilo que nos é conveniente, aquilo que nos agrada aos olhos e a alma, aquilo que dizemos nos completar. "amamos" sempre as benesses do que chamamos amor, amamos o lucro que ele pode nos dar, amamos o que Há de melhor do que vulgarmente chamamos amar, pois se não Há o melhor que procuramos no amor, geralmente fazemos questão de excluir de nossas vidinhas. e viva o hámor!

marcelozorzeto

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

abraçar

ao abraçar alguém de VERDADE, você tem a sensação exata de voar. um passarinho me contou.

marcelozorzeto

domingo, 1 de outubro de 2017

oração de domingo

o que eu quero mesmo é que todos os tronos desmoronem e que todos os altares de ganância e hipocrisia se despedacem sem dó nem piedade, que caiam absolutos, todos os reis e absolutistas e que suas coroas de ouro, brilhante e usura sejam derretidas com seus cetros e mantos; que morram todos os deuses criadores do ódio e da separação; que se despedace cada castelo e prisão, cada templo ou igreja de pedra, areia e prata, e que nos reste apenas o desejo de mudar e repeitar o mundo e entender que somos rio e árvore e não carro, nem etiqueta de roupa.

marcelozorzeto