sexta-feira, 25 de setembro de 2015

para ser lido em voz alta e ficar sem fôlego

adorno o mar fugir à morte amar
a dor no ar voar a sorte azar
calor calar sorrir o forte um par
viver velar ir ver rever o lar
cantar partir sem ter sentir atar
ventar cair sorver sorrir chorar
chover voltar nascer crescer vidar
marcelozorzeto

sábado, 19 de setembro de 2015

da minha janela vejo um céu mono-estelar

da minha janela vejo um céu mono-estelar
minha janela vejo um céu mono-estelar da 
janela vejo um céu mono-estelar da minha 
vejo um céu mono-estelar da minha janela 
céu mono-estelar da minha janela vejo um

marcelozorzeto

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

um novo velho amor

dentro do meu peito corre uma nova brisa
sopra leve um doce riacho
treme um sorriso tímido e suave e um coração
pois um amor me bate certeiro na alma
sinto uma alegria transparente de existir mesmo sem me entender por completo presente nesse finito universo da vida
esse amor pulsa forte, impulsiona
como um rio que rompe represas
arrebenta as comportas
toma seu lugar de direito
e repousa plácido sobre a antiga várzea
eu sou agora apenas inundação.

marcelozorzeto

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

fazer teatro

fazer teatro é morrer um dia a menos todos os dias

marcelozorzeto
não dá pra se dizer que acertou sem nunca ter visto o errado, o erro só existe em função do que é dito acerto. Já o amor não é antônimo de ódio, nem aqui nem no Japão. Eles quase sempre coabitam o mesmo coração escancarado.

marcelozorzeto

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

retalhos da estação

palavras de açúcar
na língua o palato
saliva na boca
saúva no prato
ao sol de setembro
garapa de cana
engenho de verso
abelha rainha
castelo de nuvens
contente (manhã)
meus olhos desejam
os dentes cravados
em fruta mordida
completos sabores
em meio a sorrisos
nas presas palavras
singelos amores
sem culpa sem dores

marcelozorzeto

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

imagine o tempo

imagine o tempo sem a gente pessoas sem os rios sem o céu sem os pássaros imagine o tempo sem a dor saudade sem o sol sem a escuridão sem o paladar imagine ele o senhor tempo tempestade sem nossas vidas em suas mãos imagine o tempo úmido sozinho quase louco contando os segundos sob um guarda-chuva preto imagine o tempo já seco se perdendo entre as horas sem poder manipular o destino das coisas imagine o tempo passado fadado ao esquecimento dos dias dos meses dos anos décadas milênios imagine o tempo desaparecendo infinito sem morte sem deus sem mais mistérios.

marcelozorzeto

ah, o capitalismo e seus sentimentos


terça-feira, 8 de setembro de 2015

desabafo sobre mim mesmo

palavras entre parênteses? de quantas você precisa?
reticências intermináveis, vírgulas desnecessárias
raspas de metáforas, conjunções enferrujadas
preposições despropositadas te servem exatamente para que?

não me venha com as nomenclaturas do seu balcão de ofertas.
o pior analfabeto é quem não entende o sentimento,
na exclamação de um sorriso sincero mora o sentido exato do mundo
mora o meu coração e o seu.
já os olhos, esses podem ser enciclopédias enquanto brilham.


marcelozorzeto

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

tenho saudade

tenho saudade de gente bem simples
café na garrafa, passado na hora
biscoito maisena manteiga e pipoca

tenho saudade bom dia boa tarde
boa noite amizade e sentar na calçada
conversa tão boa em volta da mesa

tenho saudade da mãe preocupada
chamando pra janta cadeira de área
irmãos pra brincar jogar bola e pai

tenho saudade do cair da tarde
da rede esticada livros e varanda
gente engraçada alegria e sorriso

tenho saudade de olhar para a serra
andar lentamente calçada e cidade
molhar os meus pés na beirada de rio

tenho saudade de grilo e cigarra
escuridão ver estrela do cheiro de mato
vaga-lume sereno viola e canção

tenho saudade de cão vira-lata
cafuné no focinho lambuza de baba
rolar no gramado até a escuridão

tenho saudade correr no campinho
jogar pelas linhas de ser artilheiro
abraço apertado na hora do gol

tenho saudade de fruta no pé
fiapo nos dentes bigode de manga
correr marimbondo ferroada que dói

tenho saudade subir no telhado
madrugada escura estrelas milhares
desenhos com nuvens um sonhar que constrói

tenho saudade chuva de verão
roupa suja de barro bicicleta e ladeira
vento no meu rosto criança e quintal

tenho saudade de mim nisso tudo
vida pela frente de ter pés descalços
gramado jardim tramela janela chá quente roseira e jasmim coração.


marcelozorzeto

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

coração cão

no meu peito cão vagabundo
coração que vira e mexe me late
latente cão vasto mundo 
potente zona de amor e combate
acuado pela raiva, rua dos fundos
bomba e sangue na avenida escarlate
um café bem forte, imensidão, chão imundo
tem sempre na vida a hora do cheque-mate

em meus olhos não permitirei o ódio fecundo
mesmo que o monstro de mim mesmo me arrebate.


marcelozorzeto