sem a chuva seca
com a chuva inunda
e o mundo, imundo
o lixo flutua no homem
que se afoga no lixo.
marcelozorzeto
Santificados sejam nossos ofensores, assim como nós magoamos a quem nos tem perdoado.
segunda-feira, 15 de dezembro de 2014
terça-feira, 9 de dezembro de 2014
aos olhos que veem e não percebem
aos olhos que veem e não percebem, tudo é vento, não há vendaval, tampouco a brisa do mar se revela - aos olhos que veem e não percebem, tudo é hora, minuto ou segundo, só há o tempo das coisas e tudo escorre pelos dedos das mãos, sedentas de aprisionar - aos olhos que veem e não percebem, tudo é prosa, o viaduto, o chá e tudo que há sob(re) ele também e a poesia se esconde nas frestas do cotidiano, imperceptível - aos olhos que veem e não percebem, tudo é tudo e nada é quase nada, quando tudo e nada podem ser a morte e a vida numa simplicidade abissal.
aos olhos que veem e não percebem, tudo é concreto, nada é abstrato (odeia-se o abstrato, o impalpável), mas nem mesmo o arranha-céu, em sua forma de mar agitado de cimento e cinza, arranha a sensibilidade - aos olhos que veem e não percebem, tudo é lixo, o saco preto do lixo, o homem preto no lixo, a criança preta no semáforo - os olhos que veem e não percebem sofrem de uma cegueira de alma e fazem sofrer tudo e todos os que habitam esse quase limbo, contra-mão do amor, inferno na rua paraíso.
marcelozorzeto
aos olhos que veem e não percebem, tudo é concreto, nada é abstrato (odeia-se o abstrato, o impalpável), mas nem mesmo o arranha-céu, em sua forma de mar agitado de cimento e cinza, arranha a sensibilidade - aos olhos que veem e não percebem, tudo é lixo, o saco preto do lixo, o homem preto no lixo, a criança preta no semáforo - os olhos que veem e não percebem sofrem de uma cegueira de alma e fazem sofrer tudo e todos os que habitam esse quase limbo, contra-mão do amor, inferno na rua paraíso.
marcelozorzeto
quarta-feira, 3 de dezembro de 2014
Impressões de um dia de tarde
Ao fechar os olhos e me deixar conduzir por um desconhecido rumo ao desconhecido
me bate uma sensação conhecida, a sensação nítida de estar vivo. Conhecida, porém não muito acessada.A tensão ao dar um salto no escuro te coloca em estado de alerta imediato. O risco é iminente. A vida também. O teatro também. Aliás a vida é teatro e vice-versa não nessa mesma ordem. A arte é vida. E o risco é o estopim pra todas as coisas não cotidianas.
O que nós queremos é comodidade, queremos conforto, queremos segurança. Todos se matam e se odeiam por esses três pilares de nossa atual sociedade. As pessoas se fecham em suas casas de muros altos pra não correrem risco. Mas não correr risco é estar morto. Apenas aqueles dentro de caixões estão fora de perigo. E se fechar em muros altos é uma espécie de morte.
Estar inteiro é uma espécie de estado de antena parabólica, que capta as ondas que vem dos que se relacionam contigo, seja no palco, seja na vida. Estar inteiro é uma questão de estar presente. Pois a vida só acontece no presente.
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