Penso num verso que se esconde aqui, no profundo de mim
qualquer um, qualquer verso ou insanidade em forma de...
verso que insiste e persiste em esgueirar-se
para não ser visto, não ser encontrado, não fazer sentido
um verso calado um verso moído como carne
que me aperta as vísceras e me faz o estômago naufragar em ácido gástrico.
Percebe minhas palavras já todas viciadas em silêncio,
vestidas para a antifesta de suas próprias vidas, escondidas com a roupa do medo?
Não...
Desde então, num movimento anacrônico, um verbo se rebela, e aflito, grita!
quer ser único
quer ser raro
mas no inverso
é tão raso quanto eu sou.
Nenhuma palavra sã quer ser mote pro meu açoite
e todas fogem do meu pensar de carrasco,
mas nada que não se queira ouvir será desdito
nada que não se queira dizer será calado.
Meus pulmões, prestes a explodir, se enchem com todas as letras mesquinhas e fonemas canalhas
pulmões cheios, estufados com palavras de aqui de dentro do meu mundo irreal.
Porém o silêncio é um grito que no reverso se desfaz
o silêncio daquilo que não quer ser dito
o silêncio dos problemas sem solução
o silêncio, essa fratura imposta ao pé do ouvido
o silêncio que me trai constantemente
o silêncio é a vida e a morte da própria razão.
marcelozorzeto