quinta-feira, 31 de agosto de 2017

trova 1

nesta trova que lhe escrevo
só me atrevo a ser trovão
tempestade de palavras
rompe o peito, inundação...

marcelozorzeto
quem SE ama, cuida...

marcelozorzeto

as dores

me preocupei demais com o sentir da dor,
quando a dor era deveras fundamental
me preocupei demais com a minha vaidade,
sobre o que vão pensar se...
sobre quando não vão mais pensar em mim
sobre a vala do esquecimento, que é onde se atira
quem não serve mais aos interesses comerciais...

mas o tempo, peregrino, é leve
como a chuva que tudo lava,
que tudo leva
e embora haja esse resquício de nós
a sobrevoar a história que permanece,
a história há também de virar pó

o pó que somos o pó de onde viemos.

marcelozorzeto

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

boca do lobo

o sol cinza-chumbo-chuva-ácida. o céu concreto spray-azul-metálico na alameda. chovem ratos pelo asfalto preto, nascer asfalto, crescer rua, morrer rato. a marquise suja e úmida abriga a gente que dorme no chão, de barriga vazia e garrafa quase sempre cheia na mão. e há sempre uma criança correndo feliz pela enxurrada. brincando na boca-do-lobo, transitando entre os becos. os botes são dados e quando menos se espera o mundo te devora e cospe de volta.

marcelozorzeto

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

penso num verso que se esconde aqui, dentro de mim

Penso num verso que se esconde aqui, no profundo de mim
qualquer um, qualquer verso ou insanidade em forma de...
verso que insiste e persiste em esgueirar-se 
para não ser visto, não ser encontrado, não fazer sentido
um verso calado um verso moído como carne
que me aperta as vísceras e me faz o estômago naufragar em ácido gástrico.

Percebe minhas palavras já todas viciadas em silêncio, 
vestidas para a antifesta de suas próprias vidas, escondidas com a roupa do medo? 
Não...

Desde então, num movimento anacrônico, um verbo se rebela, e aflito, grita!
quer ser único
quer ser raro
mas no inverso
é tão raso quanto eu sou.

Nenhuma palavra sã quer ser mote pro meu açoite
e todas fogem do meu pensar de carrasco,
mas nada que não se queira ouvir será desdito
nada que não se queira dizer será calado.

Meus pulmões, prestes a explodir, se enchem com todas as letras mesquinhas e fonemas canalhas
pulmões cheios, estufados com palavras de aqui de dentro do meu mundo irreal.

Porém o silêncio é um grito que no reverso se desfaz
o silêncio daquilo que não quer ser dito
o silêncio dos problemas sem solução
o silêncio, essa fratura imposta ao pé do ouvido
o silêncio que me trai constantemente
o silêncio é a vida e a morte da própria razão.

marcelozorzeto

terça-feira, 8 de agosto de 2017

complete

eram 6 da
quando ele chegou ao
abriu a porta do
e a arrancou da
tirou suas
e depois saiu sem medo de
mais tarde, mandou um
para explicar sobre a
e nunca mais apareceu no
vive feliz com
num país vizinho ao seu
fim.

marcelozorzeto

cacos

ao entrar no buraco/me desperdicei
pra sair/me despedacei
juntei os cacos/me descompassei.

marcelozorzeto

sábado, 5 de agosto de 2017