segunda-feira, 29 de agosto de 2016

crônicos

com a pele já toda encharcada de esperança, ele atravessou o asfalto, entrou no bar e em pé no balcão, pediu uma dose dupla de paciência,
marcelozorzeto

terça-feira, 23 de agosto de 2016

poema fluxo

ontem, veio até mim uma palavra vaga trazida pela brisa da primeira manhã
úmida e leve como o amor de uma criança
a água, com seu som incurável de chuva a diluiu forte e breve
e fez dela correnteza
a caminho do mar
esse poema fluxo
leite de rio
leito de mãe.

marcelozorzeto

sábado, 20 de agosto de 2016

na avenida

pois não é que todo bom samba fala da minha tristeza
do meu gingado desafinado na avenida
e dos meus passos desencontrados em direção à apoteose.
lágrimas de cuíca e de cavaco, e sorrisos de pandeiro...

marcelozorzeto
(sobre ser perecível)
não sou eu que sigo com o tempo, é ele que segue comigo, enquanto pereço, enquanto ele ainda me achar necessário. sou eu que termino. o tempo, esse deus sereno, único amor infinito, nunca vai tem fim.

marcelozorzeto

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

tentou a desconstrução e desabou, virou entulho, escombros...
estão construindo um shopping center, ou uma igreja na área, ainda não sei
faltou estrutura para tanto e eu respeito isso.

marcelozorzeto

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

todo poema é

cuidado, todo poema é uma carta de autodestruição abre-se demais as portas da casa, escancara-se ao verbo vulnerabilidade da carne, dos ossos, do peito em demasia desprotege-se, vira alvo fácil todo poeta é um suicida-social escrita sobrevida, deixa-se morrer revela-se, cai do céu todo poema rompe um pacto onde a verdade não é permitida e atirar-se da janela é muito, muito provável todo poema é um arranha-céu de onde me atiro o corpo que cai é de verdade (a única verdade) é poesia em forma de vento. marcelozorzeto

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

poema estéril

eis aqui, poema estéril em terra infértil,
fogo morto em palavras, espalhado pelo chão
eis aqui, poema em cinzas, lama e morte,
saudade em chamas, um poema-oração
destempero em minha carne, noite espessa, 
azul-saudade, ser José ou ser João
eis aqui um não-poema fingindo ser de fato aquilo que não é
exposto ao escárnio, planta o ódio, e diz que ama em traição
pele em rugas, frases mortas, altar torto em minha anti-fé
escancara sua face, abre o peito e renasce em meu perdão.
marcelozorzeto