quarta-feira, 15 de agosto de 2012

silêncio

meu ser se assemelha ao céu que é somente seu
seu céu em meu ego cego, que segue adiante e ateu
ser seu sertão num cercado de sol à pino, um caracol...
sou instantes, um pouco antes da boca encontrar o anzol.

sou você sem fim ou sem mim
e minha alma só se acalma 
se em nossa cama,
em nosso jardim.
seu ser no meu sol, sem fazer sombra, sem me fazer só
meu eu, volúvel, solúvel ao me transformar em pó
desfazendo o nó
sem dó nenhuma de mim
de uma dor nem tão doída assim.
meu eu, seu nosso
seu meu, eu posso

no sal dessa terra, desse deus morto 
nessa cidade triste
nesse mundo insosso
de almas tristes e pensamento torto.

marcelozorzeto

sábado, 11 de agosto de 2012

cicatrizando

sem querer e sem pedir me vieram as palavras
palavras sem sal, sem tempero
palavras sempre mal passadas
que chovem aos berros
que gritam loucamente em suaves murmúrios
entre sorrisos tortos

palavras que saltam ao meu redor
brincam numa ciranda alucinante
com todas as letras de mãos dadas

as ideias me escapam
quero fazer delas pessoas de carne e osso
como misturar então dor e saudade e a boca amarga de café?

e tudo que tenho é um poema barato
sujo
desonesto
de sabor indigesto
que não consigo engolir nem a pau

palavras de carne também sangram
e sempre é difícil estancar a nossa insensatez
nos resta a cicatriz mal feita, mal costurada
a qual temos vergonha de expor em dias de sol

marcelozorzeto