quinta-feira, 30 de junho de 2011

sampa



São Paulo, 
                  a cidade que eu amo é cinza

A cidade que eu amo, 
                                   desaparece no céu invisivelmente azul

Do prédio da Augusta, 
                                     a vida não dorme nem acorda

O sonho feliz de cidade é pesadelo cotidiano de hipocrisia

No bom retiro da liberdade, 
                                           os mendigos presos à miséria craqueando as ilusões

Putas de salto, 
                       minissaias do acaso da vida fácil nada fácil

Cosmopolitamente racial,
                                         os gêneros se misturam como água e óleo

E veloz, 
             a Sampa do meu coração se dissolve em prantos fiéis

Onde poluição e emoção confundem meus olhos e choro

E mesmo assim, 
                          nada acontece no meu coração.

marcelozorzeto

terça-feira, 21 de junho de 2011

queridas amigas


ando tão amargo (90% cacau) que nem tenho ouvido mais as cigarras escandalosas que cantam para a morte. no meio da rua, o asfalto quente esfria durante a pausa da vida urbana desregrada. parece que a vida é maior daqui da janela de casa, onde vejo tudo do alto.

pessoas que não passam, cachorros que não latem, a grama que não existe e por isso insiste em não crescer. nada acontece ao mesmo tempo em que tudo pode explodir na sua cara. uma tragédia anunciada e inevitável. um vento morno corta o silêncio constrangedor e interrompe o ciclo tedioso dos dias insossos ao derrubar o vaso de plantas já mortas na véspera. ontem o dia amanheceu e já era quase noite, o sol, de porre, deve ter perdido a hora e confundido os ponteiros do meu relógio.

se houvesse uma máquina do tempo eu a adiantaria até o momento em que eu pudesse terminar este relato. e essa cabeça que não para! porém, o asfalto ainda quente, de um sol desnorteado, queima os pés desavisados, e assim tudo se dá, tudo se resolve. paro e penso no que poderia ser se já não fosse, perco a esperança, perco o sono e só não perco essa estúpida necessidade de parecer o que não sou. e quem é que perde?

então escrevo, e isso me tranquiliza, me faz poder acreditar mais no invisível, me faz poder ouvir as cigarras escandalosas que parecem gritar por meu nome sem cessar. ah, minhas amigas cigarras, não morram por mim! não morram por ninguém! apenas cantem, se esse for o acaso.

marcelozorzeto