quinta-feira, 31 de março de 2016

o reino onde eu moro

Moro num reino tão cheio de gente. tão cheio de lixo - sou bicho
tem gente no lixo. e lixo na gente - enchente

concreto armado, arame farpado no muro - perjuro
e armada é a cama pro corpo que morre no chão da calçada - velada

coberto de caixas de papelão - sou cão
abundante é a oferta de pão dormido - futuro
"fudido"

a miséria é armada no vão do concreto - excreto
e o lixo é o banquete no banco da praça - desgraça

país-ficção fricção social no coreto - meu reto
a igreja condena. a justiça, gangrena. o estado é laico e crônico - irônico

a carne rachada na sola do pé - tem verme do bucho, sarjeta é luxo no nicho da fé.
e a gente invisível na fome da praça se abraça velando o defunto - no agora
pois o tempo não infere se é dia,
se é tarde,
ou se é noite - aurora.

marcelozorzeto

sexta-feira, 18 de março de 2016

um dia de cada vez

estou aprendendo a sofrer um dia de cada vez. viver de fato é apenas para os de estômago forte. meu conto de fadas aponta agora uma direção diferente na bússola. estou triste, mas não sou infeliz. tenho amigos. dois ou três talvez. quem sabe quatro até? quantidade nunca foi meu forte. e lhes digo uma coisa, se a morte é perigosa, imagina a vida... essa noite sonhei ter asas, mas o voo era improvável, pois para voar precisava ter coragem e eu não tinha. atrofiaram. As asas.

marcelozorzeto

sexta-feira, 11 de março de 2016

o reduto dos fracos

o ódio é o reduto dos fracos. e somos todos fracos. muito fracos. uns mais outros menos, mas fracos.
dizer que ama é só pra quem tem sangue nos olhos e não nas mãos.

marcelozorzeto

quinta-feira, 10 de março de 2016

mini crônicas crônicas

passando pela calçada escura, quase chegando em casa, havia uma pilha de sacos de lixo. Percebi que se mexiam. quando um homem, isso um Homem, saiu de repente do meio deles e esbarrou em mim. tomei um susto. Ele: -desculpa se te assustei. eu também me assusto às vezes.

marcelozorzeto

quarta-feira, 9 de março de 2016

ponto de tangência

as pessoas tem suas razões para serem cruéis? tem.
um copo de ácido aqui, um punhal afiado acolá.
são maneiras de enxergar a vida JZé. São maneiras de vivê-las em sua plenitude. A paz é uma encomenda que caiu do caminhão de entrega. É triste ver quem fica na janela a esperar.
É desesperador. E o desespero é cruel. Eis o ponto de tangência.

marcelozorzeto

sexta-feira, 4 de março de 2016

diluição de tempo

Há anos ela tem se diluído no tempo, arrastando as sandálias no asfalto quente de uma cidade vazia. Sua vida solúvel se dissolvendo num copo cheio de horas e insanidade. O tempo é como o açúcar que gruda no fundo do copo.

marcelozorzeto