sábado, 16 de dezembro de 2017

mais amo do que tanto

vem dos versos que me louvam e
me afastam me louvam e me afastam
desse chão já muito rastejado
por mim vem dos versos que me lavram a terra
fértil do meu pouco sentir o choro nunca derramado
ah este pequeno poema-grão na crente
tentativa de me livrar das flores de todo
o mal ah, esse verbo-vão que acredita semear
a esperança atirando as palavras no ar pois
hoje, hoje é o dia da nossa maldade diária e eu
nem sei mais precisar porque amo tanto
mais amo do que tanto.

marcelozorzeto

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

na escuridão

é na escuridão que me vejo inteiro, de fora pra dentro
é na escuridão que penso o imenso e o eterno em mim
é na escuridão que reconheço os defeitos da minh'alma inexistente
é na escuridão que abro os olhos e enxergo minha total insignificância... e digo pra mim mesmo: sou o que sou e tudo está! a luz me queima as pálpebras do tentar satisfazer os olhares cegos de desejos luminosos.

marcelozorzeto

terça-feira, 31 de outubro de 2017

a arte

a arte é antes de mais anda, algo que vem pra nos inquietar, incomodar, tentar nos mostrar o aspecto do real, nos fazer entender a importância do risco que se esconde nas frestas do cotidiano; cotidiano que insiste em nos aprisionar nesse imposto comodismo frio e mórbido. e inquietar-se é por-se em movimento denotativo e conotativamente. e vida é movimento, vida é risco, vida é ter consciência da morte sem se deixar contrair pelo medo da finitude. eis o grande perigo da arte: descobrir o real, revelar a crueza da vida, nos colocar em contato consigo, reconhecer que somos nossos próprios deuses e consequentemente nos reconhecer como o outro que somos.

marcelozorzeto

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

as cigarras

onde estão as cigarras que me acariciavam os ouvidos com estilhaços de suas mortes, sempre pregadas às folhas do tempo, folhas e galhos repletos de tempo? sinto cheiro de dama-da-noite e minha infância me vem aos olhos em forma de refluxo, num contrafluxo tardio de vida...

marcelozorzeto

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

em nome da mãe

eu sei o que vocês querem, 
eu sei muito bem...
vocês querem um novo herói, né?
um messias, um novo enviado celestial.
pra pendurar num pedaço de pau e bater uns pregos
tô ligado...
eu sei, eu sei, tá na cara e vocês-nem-sabem-mentir-direito. 
mas nessa eu não caio não, 
nem adianta me oferecer suborno, 
propriedades em outras dimensões, 
salvações almáticas, nunca serei seu salvador, 
e sabe por que? porque se eu morrer, 
vocês não se darão por satisfeitos, 
vocês vão querer me ressuscitar, é... 
ressuscitadinho da silva,
vão querer infernizar o meu domingo de folga 
com a porra dos problemas de vocês, 
o histórico de vocês não é bom... é bem ruim por sinal,
e se por ventura, muito por acaso eu for forçado a voltar, 
eu prometo tocar fogo em tudo,
não vai sobrar um palito de fósforo sobre a face da terra. 
o recado foi dado. em nome do MÃE.

marcelozorzeto

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

entender

Algumas pessoas entendem
outras não entendem realmente
mas a maioria mesmo
a maioria morre de medo de entender.

marcelozorzeto
não sei qual o pior; achar que vai morrer, ou ter certeza!

marcelozorzeto

domingo, 8 de outubro de 2017

a novidade

há um certo fetiche pelo novo, espera-se a novidade com anseio, uma contra-monotonia, como se ela, a novidade, fosse a salvação para as nossas almas tão vazias. mas via de regra, a novidade também é vazia, pois é feita às pressas para suprir a demanda do desespero e o tédio diário. veja o antigo, o velho, ele é consistente, amadureceu e não amarra mais a boca ao ser mordido. observe os maracujás e os livros de páginas amareladas.

marcelozorzeto

hámor

só "amamos" aquilo que nos é conveniente, aquilo que nos agrada aos olhos e a alma, aquilo que dizemos nos completar. "amamos" sempre as benesses do que chamamos amor, amamos o lucro que ele pode nos dar, amamos o que Há de melhor do que vulgarmente chamamos amar, pois se não Há o melhor que procuramos no amor, geralmente fazemos questão de excluir de nossas vidinhas. e viva o hámor!

marcelozorzeto

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

abraçar

ao abraçar alguém de VERDADE, você tem a sensação exata de voar. um passarinho me contou.

marcelozorzeto

domingo, 1 de outubro de 2017

oração de domingo

o que eu quero mesmo é que todos os tronos desmoronem e que todos os altares de ganância e hipocrisia se despedacem sem dó nem piedade, que caiam absolutos, todos os reis e absolutistas e que suas coroas de ouro, brilhante e usura sejam derretidas com seus cetros e mantos; que morram todos os deuses criadores do ódio e da separação; que se despedace cada castelo e prisão, cada templo ou igreja de pedra, areia e prata, e que nos reste apenas o desejo de mudar e repeitar o mundo e entender que somos rio e árvore e não carro, nem etiqueta de roupa.

marcelozorzeto

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

ninguém

pedro inácio escrevia textos lindos, cheios de poesia, que ninguém lia, resolveu então transformá-los em música,  belas canções cheias de harmonia, que ninguém ouvia, até que decidiu, num ato de loucura, dançar sua própria música, no meio da rua, numa tarde de sol de segunda, foi atropelado por um eleitor do dória!

marcelozorzeto

42

estou ficando oco
assistindo aos meus desejos
esfarelarem aos poucos...
um eco maluco na cabeça
um vácuo tremendo no peito
implorando pra que algo aconteça
pra que tudo, no fim, se dê jeito.

marcelozorzeto

a vida e a vela

a vida tal qual uma vela que queima,
(velas tão díspares, tão imprecisas)
um corpo de cera em carne que arde impacientemente
e dura o tempo exato que a escuridão suportar o seu fogo, ou
até a primeira janela, que esquecida aberta, sopra e faz da chama fumaça...
porém sei que o fogo, que a consome, é a alegria da transformação...

marcelozorzeto

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

pedaço

quero ser inteiro como a palavra pedaço letra por letra, parte por parte cada som mastigado entre os dentes verso e reverso a despedaçar meu pranto suave nesse mormaço insalubre de cólera, eu canto meu coração de aço... um palhaço triste das manhãs inúteis, sei bem deste mundo o cansaço e a fertilidade ao avesso mas quem foi que pediu pra eu nascer inteiro? pois ninguém nasce e ninguém morre de uma vez, meu bem... pedaço.

marcelozorzeto

terça-feira, 12 de setembro de 2017

hors concurs

rasguei a folha de alface como quem rasga uma carta de amor não correspondida, ou um tratado da ONU ou Tordesilhas. salada dramática, vinagre balsâmico, azeite orgásmico e a vida como uma conserva de ervilhas. ah mon'amour, nosso amor é hors concurs, dois poetas perdidos em uma ilha qualquer do paraíso tropical.

marcelozorzeto

copan

O Copan é um prédio com lordose, mas como ele tá deitado ninguém percebe.


marcelozorzeto

toda dor

toda dor é diferente
tem dor que dói de graça
tem a dor de estar ausente
tem a dor de ser vidraça
tem a dor de ser urgente
tem a dor pela mordaça
da censura impertinente
a dor no coração malamado
mal-amor, mal-me-quer de toda gente.
a dor de se ser o que se é
adorno da alma, minha dor
intermitente.


marcelozorzeto

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

trova 1

nesta trova que lhe escrevo
só me atrevo a ser trovão
tempestade de palavras
rompe o peito, inundação...

marcelozorzeto
quem SE ama, cuida...

marcelozorzeto

as dores

me preocupei demais com o sentir da dor,
quando a dor era deveras fundamental
me preocupei demais com a minha vaidade,
sobre o que vão pensar se...
sobre quando não vão mais pensar em mim
sobre a vala do esquecimento, que é onde se atira
quem não serve mais aos interesses comerciais...

mas o tempo, peregrino, é leve
como a chuva que tudo lava,
que tudo leva
e embora haja esse resquício de nós
a sobrevoar a história que permanece,
a história há também de virar pó

o pó que somos o pó de onde viemos.

marcelozorzeto

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

boca do lobo

o sol cinza-chumbo-chuva-ácida. o céu concreto spray-azul-metálico na alameda. chovem ratos pelo asfalto preto, nascer asfalto, crescer rua, morrer rato. a marquise suja e úmida abriga a gente que dorme no chão, de barriga vazia e garrafa quase sempre cheia na mão. e há sempre uma criança correndo feliz pela enxurrada. brincando na boca-do-lobo, transitando entre os becos. os botes são dados e quando menos se espera o mundo te devora e cospe de volta.

marcelozorzeto

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

penso num verso que se esconde aqui, dentro de mim

Penso num verso que se esconde aqui, no profundo de mim
qualquer um, qualquer verso ou insanidade em forma de...
verso que insiste e persiste em esgueirar-se 
para não ser visto, não ser encontrado, não fazer sentido
um verso calado um verso moído como carne
que me aperta as vísceras e me faz o estômago naufragar em ácido gástrico.

Percebe minhas palavras já todas viciadas em silêncio, 
vestidas para a antifesta de suas próprias vidas, escondidas com a roupa do medo? 
Não...

Desde então, num movimento anacrônico, um verbo se rebela, e aflito, grita!
quer ser único
quer ser raro
mas no inverso
é tão raso quanto eu sou.

Nenhuma palavra sã quer ser mote pro meu açoite
e todas fogem do meu pensar de carrasco,
mas nada que não se queira ouvir será desdito
nada que não se queira dizer será calado.

Meus pulmões, prestes a explodir, se enchem com todas as letras mesquinhas e fonemas canalhas
pulmões cheios, estufados com palavras de aqui de dentro do meu mundo irreal.

Porém o silêncio é um grito que no reverso se desfaz
o silêncio daquilo que não quer ser dito
o silêncio dos problemas sem solução
o silêncio, essa fratura imposta ao pé do ouvido
o silêncio que me trai constantemente
o silêncio é a vida e a morte da própria razão.

marcelozorzeto

terça-feira, 8 de agosto de 2017

complete

eram 6 da
quando ele chegou ao
abriu a porta do
e a arrancou da
tirou suas
e depois saiu sem medo de
mais tarde, mandou um
para explicar sobre a
e nunca mais apareceu no
vive feliz com
num país vizinho ao seu
fim.

marcelozorzeto

cacos

ao entrar no buraco/me desperdicei
pra sair/me despedacei
juntei os cacos/me descompassei.

marcelozorzeto

sábado, 5 de agosto de 2017

segunda-feira, 17 de julho de 2017

crônica de um país ensolarado

Tá ali um fato estendido no chão, ali naquele chão tão disforme, chão sujo de meio dia, dia e meio (o show da fome) em posição de feto, ele me consome tento impor meu afeto e uma frase inconforme... um poema e o meu ódio, decanto minha impotência fico em silêncio diante àquele ser sem nome sem rg, cpf e endereço sem direito a um recomeço qualquer da boca do homem, saliva da vida que escorre e molha o sol da calçada. é meio dia e ainda tem a tarde inteira, meu deus. você nem existe.

marcelozorzeto
a contraparte
da arte?
liberdade ou morte
à la carte.

marcelozorzeto

domingo, 16 de julho de 2017

formigas

enquanto lavava a louça da janta, um grupo pequeno de formigas, devia haver umas cinco ou seis no máximo, me espreitava, paralisadas, de cima da torneira da pia. se falaram alguma coisa, falaram baixo demais, pois não ouvi nada. ando meio surdo, é fato!

marcelozorzeto

segunda-feira, 10 de julho de 2017

todo passarinho é um poema travestido de deus
duas asas um bico e a música do infinito.

marcelozorzeto

sexta-feira, 7 de julho de 2017

...

...o que me assombra - penhasco
à beira do futuro - fiasco
sou mais um no front - um fraco
remediando a falha - um fato
digerindo a tarja-preta - mil frascos
estilhaçados na memória - aos cacos
meu peito estoura - buraco...

marcelozorzeto

o dia

O dia usa a noite pra sonhar com pessoas melhores... e tem perdido o sono invariavelmente...

marcelozorzeto

quinta-feira, 6 de julho de 2017

a mulher do trem

não desejo, nem espero que as palavras ditas e escritas sejam importantes, não dou tanto valor à importância que elas tem. me apego facilmente às coisas que ainda ninguém disse. e às coisas que ninguém nunca irá dizer são as que me prendem à realidade que eu invento. hoje uma mulher no trem, em silêncio, tinha o semblante de uma figueira esquecida pelo tempo. ela tinha as respostas do mundo em seu olhar. um deus, entristecida.

marcelozorzeto

quarta-feira, 5 de julho de 2017

quinta-feira, 29 de junho de 2017

coisa

já me achei bem pessoa
hoje me acho mais coisa
é pouco sútil a diferença
mas olha como soa
na primeira a vida é plena
na segunda ela é à toa.

marcelozorzeto
para o amar
transborde-se
em rio seco
é que não se navega

marcelozorzeto

terça-feira, 27 de junho de 2017

no fundo, no fundo, mas muitas vezes no raso também, todo mundo acredita estar certo e daí é esse pega pra capar desgastante onde ninguém tem razão e a tem ao mesmo tempo.

marcelozorzeto

trem pra itapevi

hoje no trem pra Itapevi
me vi sem direção andando no trilho
desprovido eu de qualquer brilho
no trilho do trem que eu não escolhi
o trem que me leva pra longe da vida
o trem que vai pra Itapevi.


marcelozorzeto

adoecer da noite

Quando só,
O sol amanhece o dia
E do outro lado da rua
Entristecida
A noite adoece, 
E um pouco atrevida
A lua traz a cura
Como se nem eu e nem você
Disso soubesse.


marcelozorzeto

domingo, 25 de junho de 2017

pastagem de carros

sob esse sol que frita os dias na capital, sol de pedra cinza,
amanheço no abrir barulhento do meu olhar ensurdecido.
é quente o asfalto pros meus pés descalçados,
pés modernos e fracos...
(não atravesso a avenida pois já me considero fraco pra essa vida)
e a boa grama? a boa grama virou pastagem de carros.

marcelozorzeto

terça-feira, 20 de junho de 2017

são paulo, 19 de junho de 2017

são paulo, 19 de junho de 2017. 22h35. calçada lado ímpar do largo do arouche. um  homem repousa sob uma marquise. sobre um chão gelado, uma caixa de papelão aberta lhe faz as vezes de cama. sobre o papelão, dorme profundamente seu corpo. será que sonha? quais os sonhos? será que come? será que sonha com o que não come? uma barata se assusta e em zigue-zague se esconde debaixo do cobertor que lhe aquece na noite fria de outono. entre o homem e o céu uma marquise. entre o homem e mim uma realidade que me congela.  ao dormir esta noite, não quero sonhar.

marelozorzeto



quinta-feira, 1 de junho de 2017

sobre a gente tanta pele morta
sob a pele tantos cadáveres esquecidos de morrer.

marcelozorzeto
por cima da pele estamos todos nus
por baixo dela estamos todos (os) nós...
e um coração a desatá-los.

marcelozorzeto

terça-feira, 30 de maio de 2017

felicidade

a felicidade é um viagem num carro flex 1.0 tanque cheio, 
não dá pra ir muito longe, mas sempre se chega a algum lugar.

marcelozorzeto

a poesia é cinzas

a poesia é como a estrela que você vê no céu
brilha, brilha, brilha (noite)
mas certamente já está morta...a poesia é cinza que vaga no espaço e você não vê.
você espera brilho, mas ela é só cinzas.

marcelozorzeto

terça-feira, 16 de maio de 2017

sou todo ódio, mas também amor
beijo molhado e escárnio secreto
vida e morte a todo momento
e nunca mais e mais e nunca
sou a força da natureza
ou a sua total insatisfação de ser.


marcelozorzeto

sexta-feira, 12 de maio de 2017

desconhecemos

simplesmente nós desconhecemos... desconhecemos por exemplo as cores das paixões, dos amores perdidos, das dores dos afetos não correspondidos. um vermelho escarlate aqui, outro roxo tempestade em copo d'água ali, um cinza metálico acolá. desconhecemos também os gostos das decepções, das vitórias sem nenhuma moral, dos horrores da desigualdade... um azedo limão, amargo nicotina ou coca-cola diet. e os cheiros? traição de um amigo me lembra mofo de armário, inveja das virtudes de alguém próximo, caixa de gordura entupida e transbordando no meio da cozinha, a solidão na capital me faz arder as narinas com cheiro de cloro misturado com xarope doce pra tosse. Clair de lune, me dá a vontade de ser deus. Quase sem querer me lembra quão ingênuo eu sou, Stormy weather me faz sentir medo de ir. acendo um incenso de alfazema, ligo a música da alma, mordo a fruta do meu querer. percebo os sentires e entendo o que pode vir a ser uma vida.

marcelozorzeto

quinta-feira, 11 de maio de 2017

nenhum amor

nenhum amor neste mundo pode ser:
um prisão perpétua um golpe de estado ou um tratamento de canal.
pena de morte uma prisão de ventre ou uma doença fatal.
crise econômica febre amarela ou o Jornal Nacional.
tem que fazer sorrir a casa, a mesa e os dentes de ogivas nucleares.

marcelozorzeto
como encerrar uma profunda dor?
como enterrar um profano amor?
ou resistir às cores de um passageiro temor?
salvaguarda-me em afeto
desabrocha-me em pétalas
floresça-me essência em flor.

marcelozorzeto

terça-feira, 9 de maio de 2017

sexo e tesão

o maior problema do amor é que ele é sempre confundido com tesão. acha-se que se ama, e casa-se, e junta-se, mas é só tesão. então acaba, o tesão é claro, pois o amor nunca não. nem existiu, e o acusam de sentimento vão. não há culpa nisso. é só problema de interpretação. quem realmente ama, enxerga além do corpo, enxerga a cumplicidade de um coração. sexo não é amor, já disse Rita Lee, "Amor é latifúndio, Sexo é invasão", mas sempre peça licença para o sexo, pro amor não precisa, não.

marcelozorzeto

herança

Tenho dentro de mim a herança luso-espanhola por parte de minha mãe, a descendência italiana por parte do meu pai e muita saliva de todos os cachorros que já me lamberam a boca em todos esses anos!! Amo ser um vira-latas.

marcelozorzeto

Hey Jesus, my man, don't you do that!!

frente a frente com seu opressor, 
quis lhe dar um soco na cara 
tanta dor e sofrimento guardados no peito, 
uma oportunidade mais do que rara,
mas ao cerrar o seu punho, sentiu em suas mãos apenas palavras...
ofereceu então a outra face como num gesto de amor
como um bom homem do campo que a sua fértil terra lavra.
aquele que ansiava por sangue,
foi para casa decepcionado
não houve guerra nesse dia,
esse não era o combinado
e para saciar o desejo e o ódio de todos,
o homem com palavras na mão e amor em sua face
foi duplamente crucificado.


marcelozorzeto
escrevo sobre o que penso e sinto
sobre o que penso que sinto
sobre o que sinto que penso
e sobre o que não penso e nem sinto
mas principalmente sobre o que observo!

marcelozorzeto
um dia hoje, outro amanhã, sem legendas
poema quase mundo, cem palavras
não dizem da sorte de se ter duvidado do sempre
a morte é uma empata-foda, pensei nas cantigas 
de escárnio que deixarei de escrever.

marcelozorzeto
sacou uma arma,
socou uma face,
secou uma alma.

marcelozorzeto
O centro da capital paulista é o lugar dos loucos assumidos, de resto é tudo encenação disfarçada de sensatez.

marcelozorzeto
pois a palavra também é uma arma, violenta, de fogo, com 6 balas no tambor, e que uma hora, por ironia do destino, naquele momento máximo, daquela vontade inebriante de ferir o próximo, com o dedo já no gatilho, você o aperta com o intuito de dispará-la e ela explode... bem na nossa cara.

marcelozorzeto

quinta-feira, 27 de abril de 2017

pé de lembrança

sem querer fui plantar no chão do meu peito, em terras já tão desgastadas, um pé de lembrança e outro de esquecimento. um só brotou saudade o outro contentamento.

marcelozorzeto

sábado, 22 de abril de 2017

para me afastar dos horrores do mundo, teria que me afastar de mim mesmo. e ao fazer isso, o horror passa a ser visto como algo que o outro faz e não eu... eis a questão humana.

marcelozorzeto

panos de prato

foi aprendendo a ter consciência sobre mim que eu passei a entender melhor os tapetes, os panos de chão e os de prato, as cortinas, as toalhas de banho e as de rosto, os cobertores e edredons, lençóis e fronhas etc. entendi que elas tem um tempo pra alcançar a sua maturidade e que suas vidas e a longevidade está diretamente relacionada a como nós as tratamos. trate-as com carinho, não as trate assim, como se fossem, sei lá, pessoas. é preciso o respeito para com...

marcelozorzeto

meu coração anacrônico

tenho uma bomba-relógio dentro do meu peito
batendo ao tingir do tempo aberto ou no pulsar viscoso das horas despropositadas.
e meu coração-anacrônico-coração vem de um tempo distinto
de um sangue cinzento, mas ainda quente, correndo arrastado
atrás das muitas certezas perdidas e das migalhas adormecidas do amor.

marcelozorzeto

sexta-feira, 21 de abril de 2017

para quando houver dança

dança o bailarino a sua dança infinita, com seus pés no firmamento e o seu corpo que levita. a harmonia do seu riso, a natureza dos seus passos, os seus gestos tão precisos, quase eternos no espaço. suas dores suas lágrimas seus desejos e anseios, seus amores bem guardados no seu peito sem receios. dança então bailarino, e o seu corpo é sempre festa, e a canção é mais perfeita, pois o todo amor se manifesta.

marcelozorzeto


o amor

o amor não admite nenhum "se..." . ele só se consuma na presença de muitos "apesares de...".

marcelozorzeto

todo amor

todo amor que diz que acaba, nem é amor, é só tesão
e o tesão quando desaba, é solidão.

marcelozorzeto

quinta-feira, 20 de abril de 2017

ser feliz

quis comprar felicidade, hahaha... foi bem patético!!
ser-feliz não está a venda. ser feliz é hipotético...

marcelozorzeto

segunda-feira, 17 de abril de 2017

era glacial

é óbvio que envelhecer é um processo como tudo nessa vida, mas tem dia que você dorme e acorda dez anos mais velho. até parece que hibernou uma era glacial todinha. acorda com gelo na barba.

marcelozorzeto

domingo, 16 de abril de 2017

e se fosse hoje?

e se fosse hoje? o que você faria? postaria a foto dele no FB todo ensanguentado, semi nu, com mãos e pés pregados? colocaria a legenda "bandido bom, é bandido morto"? afinal de contas, ele era um criminoso político... foi condenado pela sociedade que vestia a camiseta da seleção e pelas leis vigentes... o cara era comuna, esquedopata, e só andava com a ralé... e se fosse hoje? o que você faria? ajudaria o vídeo dele agonizando a se tornar viral no whatsapp? compartilhando nos grupos de família e dizendo que Pilatos é o candidato certo pras próximas eleições, porque tem um discurso de higienização social que te enche a boca de saliva? ah, e se fosse hoje... hein?

marcelozorzeto
love is "leve", not heavy
if it's heavy
it's not love
and for sure
it's gonna be "breve".

marcelozorzeto
adoro quando tem caqui em casa só pra oferecer pra Cá e praticar uns trava-língua...
- Cá, qué coco ou caqui?

marcelozorzeto

sexta-feira, 14 de abril de 2017

só quem vive a cantar as estrelas, percebe o ciúme das nuvens que as escondem.

marcelozorzeto

um rio

tem sempre um rio de leito largo ou estreito
para repousar as águas do meu tão emaranhado-peito
nos ventos secos, as folhas mortas... e o meu corpo repousa em teu leito
navego-me, deleito-me, descanso-me...
para que as minhas dores de pássaro-torto
quem sabe, se suavizem no teu pleno amor liquefeito.

marcelozorzeto







quando nasceu, fadou-se a incompletudes perfeitas
e por não entender o seu destino, o infinito lhe parecia bastante razoável.

marcelozorzeto

quarta-feira, 12 de abril de 2017

tudo que a gente sempre qué
é recebê um cafuné
que vai da nuca até o pé...
só pra se arrepiar todinho!

marcelozorzeto

terça-feira, 11 de abril de 2017

pulsar do mundo

observa o tempo! observa a vida!
observa agora como o tempo observa a vida e nota como a vida lhe é tão recíproca, lhe prestando muita atenção...
notou? conseguiu? não né?
lhe falta o endereço das horas, o relógio da vida.
mas vê, nunca lhe proibiram o sonhar, é você que se esqueceu por conta do medo bobo...
um chip bobo do medo que nos implantam...
esqueça as horas então, as orações.
acompanha o tic-tac do pulsar do mundo que também é o seu...

marcelozorzeto

abraçar a lua

é sempre abraçado com a lua que aguardo o acordar do sol
um beijo encharcado de prata e me despeço.
de mãos dadas com o sol do dia, sigo e me aqueço.

marcelozorzeto

domingo, 9 de abril de 2017

pessoa

há dois tipos de pessoas:
as que nos preferem
e as que nos pré-ferem
invariavelmente, as duas nos machucam...

marcelozorzeto

sábado, 8 de abril de 2017

todo passarinho

casa de passarinho e pedra de atiradeira, 
pode acertar em cheio o ninho e ferir a família inteira... 
e mesmo ao ódio exposto,
na seguinte manhã, com o sol já desguardado 
e a relva úmida nas folhas da bananeira, 
lá cantava, alegre e singelo, na copa do ipê-roxo todo em flor, o amor,
o sábio sabiá-laranjeira.
todo passarinho sabe mais do que eu sei...

marcelozorzeto

sexta-feira, 7 de abril de 2017

rio

sou rio. rio de planície, que pleno, cercado de cidade, veneno -
corre mansamente, marginal.
todo sangue em mim despejado _ às vezes límpido, raro.
raso e profundo, belo e sujo _
opaco, reflito o concreto no meu leito - me recolho, me deito...
cercado de gente que corre, de gente que passa com seus olhos preocupados.
passivamente aceito.
cemitério pluvial - deságua o meu peito em escassa nascente natural.

marcelozorzeto

versos

beijar a língua da palavra boca
roçar a pele da palavra corpo
cumprir o amor da palavra amar
beber a saliva da palavra sede
alcançar a fonte da palavra...desejo
verbo
sexo
verbo
sexo
versos
...

marcelozorzeto

artistas sem público #3

o olhar distante da senhora, sentada naquela praça, ao meio dia e quanto, disse tanto com o nada. casas, prédios e fábricas por dentro da madrugada passada em seus olhos cansados e distantes num voltar pra casa, ali mesmo, mas sem os aplausos. traga o cigarro, solta sua nuvem e repousa agora a voz que ilumina qualquer escuridão num canto qualquer que ela conhece de cor. a melodia entoada, é certeira, é sua própria morada.

marcelozorzeto

terça-feira, 4 de abril de 2017

horrível lago do amor

Mr Esperto!

é triste assistir ao seu amor se debatendo, se afogando num lago bem ao lado do ego. esse sentimento, muitas vezes cego, que emprega no peito, e se acha sempre no direito de dizer: - sou o que sou, e não vou mudar nem por decreto, quiça fosse amor, mas é apenas medo de amar... esteja certo.

bjos de luz.

marcelozorzeto

sexta-feira, 31 de março de 2017

Gritos - Cia dos à deux

não é de saudade que se trata. não é... pois as palavras não me atingem, não chegam à minha fonte. não há palavras. elas são apenas silêncio e a eternidade só. a saudade inaudível, e saudável, é sequer mencionada. os sonhos esquecidos sim, isso fica claro. lembro-me dos pesadelos que eu ainda vou ter. dos pecados que ainda vou cometer. uma morte, duas mortes, três mortes em sequência. não tem fim. tentam me contar da barbárie que é coexistir. dos muros que nos atravessam. das cabeças perdidas do outro lado da cerca. daquilo que fica no varal, pendurado, quando nós nos vamos. da violência que é o nascer sem pedir. eu ouço e já que quero gritar. não grito. dói.

marcelozorzeto

(não é de Monteiro Lobato)

- Mas Visconde, o que acontece com o amor do ser amado, depois que ele morre? Existe um plano pra isso?

- Emília, pois como você bem sabe, o amor é como a linha do tempo, não se dissolve. Então o plano é continuar amando em outro plano. É só aguardar sua vez e pronto...

marcelozorzeto

3 da madrugada

dirigia seu carro azul pela madrugada. avistou o sinal vermelho. parou. eram 4 da madrugada. olhou para os dois lados da avenida cinza. não viu nenhum automóvel. esperou. esperou. esqueceu. esperou... luz verde no olhar. pisou vagarosamente no acelerador prateado. atravessou sem pressa a cidade já amarelada. ouvia Debussy. era sexta-feira.

marcelozorzeto

quinta-feira, 30 de março de 2017

ECT

e agora um poema
sem dó 
sem compaixão
nem pena;
            se o amor que você sente
depende de correspondência
sinto em dizer,
mas talvez o correio nunca lhe apareça!

marcelozorzeto

terça-feira, 28 de março de 2017

toda flor

toda flor se frustra e sofre do caule a raiz e não consegue suportar o seu corte. arrancada pra servir de agrado ao sentimento, embora sensível e forte, não entende como se pode pagar o amor que se diz que se sente, com sua delicada morte.

marcelozorzeto

Solange

Solange, minha prima, me pediu dinheiro emprestado duas vezes. A primeira vez me disse que era pra comprar frasconetes de Eparema, a segunda, disse ela, era pra inteirá o valor da conta da luz. Tinha problemas de fígado eu acho. Gostava muito de fanta uva.

marcelozorzeto

o dia

O dia não tem o menor compromisso com o que a noite sonha, me disse certa vez uma tarde qualquer.

marcelozorzeto

eu te amo

Então um dia você diz "eu te amo" sentindo cada fonema e descobre que é assim que se controla o tempo. É bem raro, mas pode acontecer...

marcelozorzeto

23 de maio

na 23 de maio do meu coração pulsante, o sangue vermelho, a tinta escarlate a colorir o cinza dos dias coxos. minhas artérias, minhas regras...

marcelozorzeto

quarta-feira, 22 de março de 2017

eis o amor

amor é Roma ao contrário e também romã (~). a primeira não conheço, só sei que pegou fogo um dia, e a segunda se faz um chá de gosto duvidoso... eis o amor!!!

marcelozorzeto

cutuca

cutuca com a unha comprida, tenta achar a ponta da fita adesiva (Duréx) arranca essa casca que chama de rosto. Agosto. toca com a ponta da língua e sente o gosto do sangue que se chama palavra. aproveita e grava com o coração o meu endereço. agradeço.

marcelozorzeto
um poema é como uma avenida movimentada que tenta atravessar um bêbado qualquer.

marcelozorzeto
no anoitecer da metrópole as cigarras são todas mudas.

marcelozorzeto

terça-feira, 21 de março de 2017

sábado, 18 de março de 2017

prendi a respiração

prendi a respiração para não perder o verso, em seguida atravessei a rua, entrei num bar e pedi um café. era sábado e o sol riu de mim...

marcelozorzeto

sexta-feira, 17 de março de 2017

a morte

não quero falar da morte que te assusta, pois essa você não irá viver
falo da morte que te custa... o dia, o tempo, a sombra sem você resistir
a morte das flores no outono, ou da noite escura ao amanhecer
do sol no cair da tarde, de um sorriso ingênuo de criança ao se ferir

não há destino mais fiel que o fim de cada coisa que teima em existir
mas o fim não me preocupa e sim a chuva rala que insiste em molhar
todo o meu longo caminho, e me enxarca o corpo já cansado de cair
a nossa morte, minha gente, é diária, tal qual a vida que tenho que levar.

marcelozorzeto

as mesas de bar

Com um lápis na mão corro todos os riscos 
solto pelas páginas em branco da minha vida
sem freio, sem volta - escrevo versos que não cobram impostos.
amo as mesas de bar e panetone de frutas e não preciso de compreensão.

marcelozorzeto

terça-feira, 14 de março de 2017

te fiz uma canção

Te fiz uma canção que fala do tempo, mas não conta as horas, não vigia os dias. Uma canção sem data certa, sem hora... pra dormir, ou acordar. que simples como é, espera as estrelas assentarem no que há de eterno no céu escuro. Uma canção sobre o tempo, sem passado ou futuro. Uma canção de presente cravada no peito. no jardim dos minutos que contam, e segundos que correm, fecunda é a terra que anoitece para geminar o que sou. seu ser bem semelhante...

marcelozorzeto

é sempre

É sempre o mesmo verso
A mesma estrofe
O mesmo poeta parado na praça
Amarrado num poste
É sempre o mesmo sangue
O mesmo abraço frouxo
As vésperas do ódio fácil
É sempre o mesmo grito
A mesma dor matinal
Que faz as manhãs adoecerem.
Observe os dias com sol.


marcelozorzeto

segunda-feira, 13 de março de 2017

poesia

corte uma palavra ao meio, qualquer palavra, rasgue-a de uma ponta a outra. se sangrar, é poesia.

marcelozorzeto

desaguar

a minha mágoa morre à míngua em minha língua,
tua anágua em meu pescoço me saúda,
num esboço de saúva tenho ínguas,
corre água em meu mamilo moribundo,
um marimbondo em maremoto me deságua.

marcelozorzeto

domingo, 12 de março de 2017

aprendendo a recusar papéis

existem esses papéis, todos pré-estabelecidos. todos recebemos uma espécie de script da vida com as falas e a rubrica das cenas. quem tem que fazer o que e quando... personagens bem rasas, geralmente cachês bem ruins ou vulgares. diretor exigente, autoritário, medíocre e egoico. filme clichê... comédia de mal gosto ou dramalhão paranoico. no geral, participamos pela falta de opção ou mesmo sem nos perceber em cena. não é tão fácil recusar esses papeis, e se assim o fizer, eu provavelmente serei mal visto por isso... toda vida é uma saga? diria que sim, mas quase nenhuma história vivida por mim foi escrita por e para mim. aprendendo a recusar papéis. aprendendo a recusar papéis. aprendendo a recusar papéis...

marcelozorzeto

sexta-feira, 10 de março de 2017

quinta-feira, 9 de março de 2017

quando alguém vira pra mim e me diz: você tem que conquistar o mundo, eu logo penso em Nero, Napoleão, Hitler, Bush, Steve Jobs, meu ex-gerente. eu tenha uma preguiça de "vencer" na vida. Acho que vou seguir "derrotado" e feliz. Eu, comCá, xs amigxs e o nosso café. 

marcelozorzeto

caféto

que tal um caféto? carinho e amor em estado líquido, fragrância de saudade.

marcelozorzeto

quinta-feira, 2 de março de 2017

a novidade

há um certo desejo pelo novo, espera-se a novidade com anseio, uma contra-monotonia, como se ela, a novidade, fosse a salvação para as nossas almas tão vazias. mas via de regra, a novidade também é vazia, pois é feita as pressas para suprir a demanda do desespero e o tédio diário. veja o antigo, o velho, ele é consistente, amadureceu e não amarra mais a boca ao ser mordido. observe os maracujás e os livros de páginas amareladas.

marcelozorzeto

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017


sou como um rio, um rio de planície cercado de cidade
corro mansamente, marginal, sem tietes
todo sangue despejado em mim _ às vezes límpido, raro.
raso e profundo, belo e sujo _ opaco, reflito o concreto no meu leito, no meu peito
cercado de gente que corre, de gente que passa com seus olhos preocupados
de gente que nunca enxerga.

marcelozorzeto

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

um pica-pau

há sexo e morte em cada olhar perdido pela cidade. 
uma criança no parque. ela brinca. @#$$$$ o parque é cercado por grades. 
um mundo todo de fora só sabe passar
a criança nem pensa, a criança sente. 
o sentimento dela é o próprio mundo. 
não há morte no coração da criança.
o parque é frio e mórbido. as grades, a criança e o parque passam por mim. eu vou ficando sempre para trás. um pica-pau bica a árvore.


marcelozorzeto

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

amor é simples

se não for simples, não é amor! 
pode ser ilha de Caras, 
cobertura Gourmet, 
torta Holandesa, 
arte blazê... se não for simples, não é amor... não mesmo! 
o amor descomplica... complicou?
não é amor!


marcelozorzeto

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

entender o amor

tal qual o amor do mar pela areia da praia
pelo teu pranto, pelo teu peito
um céu arado de estrelas ruidosas te sorri
um corpo menino abraça me por dentro
sou criança em teus olhares e choro de mim pra fora o homem que nunca quis ser
um dia vou descobrir a utilidade do amor e a quem ele serve
daí então vou doá-lo ao mar que já entende do amor e permanece em silêncio.

marcelozorzeto

ver o coração

é através dos olhos que eu vejo o coração, num pulsar de leve um olhar de soslaio me distrai, pulsando sismado entre um sim e um não. se há o ódio, olhos de morte que penetram a luz na escuridão. se apaixonados, tocam as nuvens antes do toque do avião, entristecidos, um cantar de olhares se transborda, quando amor, o inferno inteiro em comunhão.

marcelozorzeto

sábado, 28 de janeiro de 2017

ao enfeitar uma árvore perdemos quase toda sua beleza...
a gente gosta muito de enfeiar as coisas do mundo.

marcelozorzeto
Qual a função da tarde senão cair e se perder na noite...

marcelozorzeto

sábado, 14 de janeiro de 2017

sentimento de supermercado

às vezes eu penso os sentimentos como se eles ficassem na prateleira de um supermercado; saudade, por exemplo: é aquele sentimento que você só leva pra casa porque o preço está ótimo, mas desatento não observa a data de validade e ao chegar em casa você descobre que está vencido. e não pode devolver por que era promoção e o supermercado fica muito longe...
marcelozorzeto

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

o poeta

não tento inventar mundos com os poemas, apenas tento traduzi-los, com as palavras, para o meu próprio entendimento. um poeta não é um caluniador delirante, ele é sim um cavaleiro dessa realidade antimórbida que se esconde!

marcelozorzeto

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

água e vento

a quem as águas lavam quando caem? o que o vento sopra quando chega o inverno?
ouço um homem leve que chega junto a escura madrugada, chove e venta forte no corpo daquele homem, mas seu assovio traz consigo uma alegre canção de anjos.
a senhora madrugada disfarça sua tristeza, enquanto a ducha bem quente derrama seu bálsamo sobre aquele homem - parece que o tempo é seu maior aliado - parece que ele não dá a mínima pro tempo...
agora ele só pensa em viver o agora
em sentir o amor que neste momento lava sua alma...
água quente que jorra constante como deve ser a vida.

marcelozorzeto
há um lugar dentro de nós que peca por permanecer escondido.

marcelozorzeto

sem mais

Sob os pés tão pouco chão
não há mais pedras no caminho
não há caminho
me sinto bem sozinho. imensidão

Sob o céu tão pouco pão
não há mais asas
não há mais voo
recomeço. paulatina escuridão

Sobre mim, muito pouco são
não há mais casca
tampouco O afeto me basta
vulcão adormecido. deleitosa erupção.

marcelozorzeto

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

sonhos e os poemas

escrevo os meus poemas no intervalo entre sonhos
sigo a minha vida num devaneio sem exigir mais compreensão
vivo as minhas preces feitas de poréns que vão muito além de mim
sinto fome e sede do pão e do vinho, da santa mesa posta
e dos milagres que me redimiam os pecados da carne

nesse altar de almas e memórias infinitas
aguardo a exato momento para repartir a vida, o corpo e o sangue em comunhão
é certo que espantarei os seres mais incautos.

marcelozorzeto

a linha tênue do tempo

é o tempo que arrebenta a linha tênue e tensa entre a morte e a vida;
no altar dos deuses tortos não há anjos nem demônios, e não hei de dizer uma só palavra com o intuito de alcançar o céu, apenas me calarei. será um salve-se quem puder, eu sei. e vou continuar cantando pra partilhar o meu canto com aqueles que não precisam de mim.

marcelozorzeto

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

são paulo e seus rios

São Paulo, a cidade que sepulta seus rios
todos vivos, todos mortos
rios de asfalto quente nas várzeas-avenidas
pó, fuligem e escuridão das águas nas marginais
margeia o progresso a ganância na regressa cidade
a metrópole que se atira do alto de um arranha-céu sem fim.

marcelozorzeto

o exaustivo silêncio

o exaustivo silêncio
das horas que amargam o dias
minuto a minuto por agora, à conta-gotas
adiante aos trancos
solitária solidão dos trópicos
diante dos barrancos do meu viver...

marcelozorzeto