sábado, 30 de abril de 2011

soneto desconfigurado

se é a ultima vez que te vejo
não quero mais teu beijo de saliva ruim
se é a ultima vez que te encaro
que fique muito claro 
a porta da rua é o que mais importa agora 
                                      [aberta ou não]

se é a ultima vez que te sinto, solta meu braço
pinto a esmo, flores sem graça

se é a ultima vez que te ouço
larga do meu bolso
devolve minha alma

esta será a ultima vez deste encanto
vamos, enxuga teu pranto e vai pro outro lado da rua
que tua nudez já não me comove
e me deixa morrer em paz

marcelozorzeto

terça-feira, 26 de abril de 2011

não ser

ser poeta e ao mesmo tempo não ser nada

verdade ou obsessão barata?

ao transpor a linha do imaginário

dá-se um passo para o infinito

e muito mais do que isso 

dá-se um passo sem volta

num imenso vazio da liberdade













marcelozorzeto

domingo, 24 de abril de 2011

abril despedaçado

À mesa exposta, a fratura
          as dores postas da fartura
                   atira a gosto o menino doente (escola)
tira gosto doentio e covarde


tiro
        Agosto
                      entes em alarde


amigos tão verdadeiros quanto deus

lágrimas que flutuam no tempo
               sem tempo pra cair no espaço
sem espaço para molhar os olhos
              que agora fechados não dizem mais
nem menos
terra
             sal
                        e cinzas
                                                             cabelo e osso
                              calabouço final
cala-se a boca afinal

marcelozorzeto

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Adeus dará



















a cada minuto que passa
sinto-me menos só
menos sol
menos ar
menos são
e o tempo me escorrega pelas mãos
a água que fica no fundo da poça sempre seca
sem nenhuma dúvida

sou exatamente aquilo que acho que não sou
e negaria tudo se fosse capaz
deito-me lentamente para não sentir esse enjoo que finjo não sentir
os meus pés descalços tocam o chão quente da estação
ao longe, pássaros cantam e a nuvem branca, engraçada brinca de desenhar no céu
a minha vida inteira passa num piscar de olhos

sei que quando estiver próximo de estar completo, partirei
nós humanos sempre partimos quando estamos próximos do completo
mas nem todos, nem sempre, quase nunca
as pessoas nascem
crescem
aparecem nas nossas vidas
e depois partem
aí deixam uma saudade (algumas).


marcelozorzeto

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Colherzinhas



baseado na crônica de Moacyr Scliar.

roteiro, direção, fotografia e edição
andré aoki

produção, arte e assistência de direção
renata oshiro

assistente de fotografia e gaffer
eric ueite

atores
giovana galindo
marcelo zorzeto

segunda-feira, 11 de abril de 2011

POeMA De PEdrA

a palavra de aço dura
   é dura como a vingança alheia é fria
         respinga sobre o papel, a tinta canalha
              que escreve e borra quando acha melhor
                     poema de pedra que desce morro abaixo

e esmaga quem mora nas entrelinhas

sem dó nem piedade

sem o pavor de ser piegas

poema anfíbio, batráquio, que pula sobre a

cadeira

e se torna notável no tapete azul


                                                          a palavra dura, 
                                                      de aço, 
                                                  de osso, 
                                             de uníssono grito.
                                         poema de pedra.

marcelozorzeto

domingo, 10 de abril de 2011

eu gosto do gosto

Eu 
gosto
do
gosto
amargo
da
ponta
da
língua
lambendo
o
pecado
tocando
a
ferida
expondo
a
loucura
sem
culpa
nem
hora
para
acabar
tem
gosto
de
samba
carnaval
na
avenida
dos
prazeres

marcelozorzeto

quinta-feira, 7 de abril de 2011

a flor da morte

sempre que te encontro, me perco 
na roda viva do tempo 
que gira em minha direção

sentimento intangível
que corta fundo no peito, mas não sangra
e a carne exposta derramada sobre a pele
é como bálsamo em gotas de urgência

nas noites quentes com sol a pino
um suor frio de pernas comovidas me congela 

sempre que me perco, basta que eu te encontre
perdida na esquina, minha fiel cafetina 
e sigo na direção da sua eterna canção
cantando o refrão do seu corpo, 
que quase já sei de cor

labirinto viciado que alicia os meus desejos
sexo que corta a minha boca em fatias largas
sangue quente a jorrar nos teus seios mórbidos

fecunda em ti meu verdadeiro ser ainda adoecido
pois tenho a certeza de serpente encurralada 
que envenena e mata
mas não perde a razão.

marcelozorzeto

domingo, 3 de abril de 2011

caber em si mesmo

é possível não caber em si mesmo
possível é fundamental
ser cheio e transbordar como a lua em noite clara
transbordar em serenatas

romper as comportas
e deixar as águas fluírem pro mar

nunca aparo as rebarbas da minha alma
eu as reservo pros dias de frio e solidão
é que as sobras nunca são sobras quando se tem fome

e minha fome é caleidoscópica
cores contrárias em direções coloridas

de sexo
arte
e amor

marcelozorzeto