terça-feira, 31 de maio de 2016

desaprendendo a viver

estou desaprendendo a viver, aos poucos, pra não traumatizar
-sempre quis, mas nunca soube ser pássaro
voar é pra quem tem doce nas asas e algodão nos pés
já eu, sou como o chumbo e as palavras me pesam
afundo-me em poesia-movediça
areia nos meus olhos é verbo
esse refresco da morte.


marcelozorzeto

domingo, 29 de maio de 2016

sangrar

é tão incerta a distância entre aquilo que posso e o que quero. um mês. uma vida. uma alma e meia.
por isso essa coisa de sangrar toda vez que escrevo às tripas...
despudoradamente rasgado, sangro.
é como se renascesse na necessidade cruel e vital
de se transbordar no imponderável da palavra.

marcelozorzeto

quarta-feira, 18 de maio de 2016

um homem sentado na escada do metrô suplica:
Oh moço, me dá um minuto do seu TEMPO pelo amor de deus...

marcelozorzeto
me vê cem gramas de alma por favor
mas corta bem fininho, que é pra comer com pão...

marcelozorzeto

socorro

-SOCORRO, ele quer me matar
-QUEM?
-o tempo...

marcelozorzeto
-mamãe, onde fica Brasília?
-numa ilha meu filho, numa ilha.

marcelozorzeto
gritei: LIBERDADE
e logo me deram uma camisa de forca...
Tiradentes.


marcelozorzeto

viúvo do mar

ontem estive na praia
calor infernal
havia lá um senhor de gravata e paletó
perguntei o porquê
ele disse: sou um viúvo do mar

marcelozorzeto
toda vida é um poema
mas nem todo poema é poesia
e nem toda poesia é vida

marcelozorzeto

hicups

perdi um poema numa crise de soluços
desceu pela glote
...espasmos poéticos

marcelozorzeto

muro

murros
muros
urros
FUTURO...
Para alguns, a arte é a mais perigosa das doutrinações, pois ela pode potencializar a liberdade.

marcelozorzeto

terça-feira, 10 de maio de 2016

madrugada. depois do último gole no copo da dignidade
os primeiros-socorros das desilusões
mais indignas. ouvi freadas no asfalto. o carro não bateu. disse ele.
apenas capotei. a cabeça dói... chame a doutora. 33x2.
fogos do golpe branco.

marcelozorzeto

sábado, 7 de maio de 2016

um poema pousou

esta manhã presenciei o exato momento em que um poema, todo prosa, pousou no parapeito do prédio vizinho
e da minha janela pude admirá-lo, assim, de longe
intocavelmente belo!
era um poema de Bandeira
com as asas de Drummond
voou como se de mim zombasse,
eu sorri e voei atrás dele.

marcelozorzeto

sexta-feira, 6 de maio de 2016

os laços

no papel de embrulho amassado 
sobre a mesa percebi 
como são frágeis os laços em volta 
do presente, do destino 
das pessoas.

marcelozorzeto