sábado, 24 de setembro de 2011

poema 123456789


e eis que é chegada a hora
da bala perdida encontrar sua direção
a partida para o final foi dada antes do início
e não fazemos nada além de patinar no mesmo lugar
estamos numa esteira rolante rumo a um desfiladeiro
tudo é apenas uma questão de tempo
tempo que não existe
desde a concepção
que saudade do útero!
nadando de braçada sem sair do lugar
mar placentário de proteína e viscosidade
meu planeta perfeito

marcelozorzeto

sábado, 17 de setembro de 2011

A Cá, aqui e ...

a vida é tão breve
e eu aqui perdendo meu tempo 
pensado no tempo 
que passa

e quando vejo, o dia já foi 
e outra noite me abraça
teus cabelos me confortam 
e nada além disso tem a menor graça

então me acusam de querer o nada
mas eu quero o tudo
eu quero as mãos dela entrelaçadas nas minhas
dançando, rodando pela praça daquela canção do Chico

sinto que o tempo voa, foge do frio e nunca mais volta
vão-se os pais, os amigos 
e as maçãs que esquecemos fora da geladeira
ficam as lembranças, o choro e a vontade daquele momento a mais no meu dia
dia que corre, 
corre e dança uma dança enlouquecida e engraçada
nada é pra sempre, nem o pra sempre é infinito
infinito é o amor que sinto sozinho
pela vida e por ela
por nós dois
juntos
a sóis


marcelozorzeto

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

brincadeira de roda


minha cabeça não para
roda, roda, roda feito pião
embriagada de esperanças e sonhos
infeliz como a criança que ganha um brinquedo,
mas não pode brincar
infeliz
como se ganhasse patins sem ter os pés

a brincadeira é de roda, eu tropeço, todos riem
a crueldade ingênua que machuca a criança indefesa 
uma arma na mão, antes escondida no fundo de um guarda-roupa
o riso alheio que gira e gira sem deixar cair
o peso da face enrubescida que queima

a vida é justa
cheia de pessoas perdidas e felizes
a bala no tambor que rufa à espera do momento certo de partir
as crianças riem, gargalham
a garrafa vazia
o gargalo como ponte entre o ébrio e a sombra que nubla
a cor vermelha do branco dos olhos
a luz que ofusca
o sol que insiste em nascer
chega!

chega perto de mim, me ajuda
pensa
pensa e os pensamentos randômicos
inundam o corpo de uma vontade estranha e quente e vermelha
o céu pode esperar pra chover
a água que cai, bate na cabeça que é oca
dentro o eco que ensurdece e alucina
alucina!

a lacuna deixada pelo riso sarcástico do indefeso menino
a ponte entre a vida e a poesia de um momento de piedade
a bala que voa e pousa leve sobre o corpo que fura
o chão que acode a queda e para...
a vida que segue e se interrompe
a tristeza do riso que mata e maltrata

a dúvida é sempre certa
a igualdade é rasa
e rara

ninguém quer transpor a ponte
o riso é só
o riso é sempre
é latente na cabeça do menino na roda
e anônimo
e foge
e brinca
e mata
e maltrata
e a dor é minha também


marcelozorzeto

domingo, 4 de setembro de 2011

Superficial ou a grande incapacidade de se aprofundar em alguma coisa


A casa é azul e tem portas e janelas
O café cheira bem

A rua que sobe, às vezes é usada também pra descer
Mas não na mesma proporção

A minha impressão digital é analógica
O meu amor dorme

A tarde é o domingo inteiro
O sol brilha quente lá fora

Eu e cadeira
Tem futebol

O relógio faz tic e para
A parede cor de creme

O sapato na sala
O mundo gira com todo mundo dentro

E todo mundo gira e não percebe
Eu também dormi

Tudo parado
A cortina cobre o sol

Me doem as costas e os braços
So far away from me

O ovo na porta da geladeira
A luz acesa pra que?

Parabéns pra você
Quando o cansaço vem e já é tarde demais para se descansar

Resta o último fôlego até cair na cama e sonhar
Quando não resta o fôlego

Quando não resta a cama
Quando não resta o sonho

Resta o nada ou tudo
E a incrível necessidade de ser o hoje

Sou cada vez mais fã da despretensão
Não da falsa

Mas da boa e verdadeira despretensão


marcelozorzeto