minha cabeça não para
roda, roda, roda feito pião
embriagada de esperanças e sonhos
infeliz como a criança que ganha um brinquedo,
mas não pode brincar
infeliz
como se ganhasse patins sem ter os pés
a brincadeira é de roda, eu tropeço, todos riem
a crueldade ingênua que machuca a criança indefesa
uma arma na mão, antes escondida no fundo de um guarda-roupa
o riso alheio que gira e gira sem deixar cair
o peso da face enrubescida que queima
a vida é justa
cheia de pessoas perdidas e felizes
a bala no tambor que rufa à espera do momento certo de partir
as crianças riem, gargalham
a garrafa vazia
o gargalo como ponte entre o ébrio e a sombra que nubla
a cor vermelha do branco dos olhos
a luz que ofusca
o sol que insiste em nascer
chega!
chega perto de mim, me ajuda
pensa
pensa e os pensamentos randômicos
inundam o corpo de uma vontade estranha e quente e vermelha
o céu pode esperar pra chover
a água que cai, bate na cabeça que é oca
dentro o eco que ensurdece e alucina
alucina!
a lacuna deixada pelo riso sarcástico do indefeso menino
a ponte entre a vida e a poesia de um momento de piedade
a bala que voa e pousa leve sobre o corpo que fura
o chão que acode a queda e para...
a vida que segue e se interrompe
a tristeza do riso que mata e maltrata
a dúvida é sempre certa
a igualdade é rasa
e rara
ninguém quer transpor a ponte
o riso é só
o riso é sempre
é latente na cabeça do menino na roda
e anônimo
e foge
e brinca
e mata
e maltrata
e a dor é minha também
marcelozorzeto